Clara reclamava sempre do calor de Teresina. Na escola, primeiro dia de aula, no pátio da escola, era a primeira a ocupar a dianteira da fila de sua turma: os primeiros seguravam as carteira da frente, de preferência debaixo dos miseráveis ventiladores de teto.
Clara suava durante as aulas. O professor, meio às explicações, dizia que o calor era capaz de ignorar a concentração, mas todos tinham um cantil na esquina de suas mesas para molhar a guela de todas as mente ali.
O sol de setembro beijava ardentemente os cabelos longos de Clara, a caminho da escola. Ressecados, a mãe a obrigava se proteger da longa caminhada.
– Clara, o guarda-sol! A menina abria a contragosto. Quarteirão dobrado fechava o artefato. Defendia-se do sol na nanica sombra dos muros.
Na praça os operários da sombra expunham suas mercadorias. Clara deu um nó nos cabelos a altura da nuca e, adentrando a sombra de uma mangueira, sentiu os arrepios gostosos no cangote. Como era maravilhosa à sombra da vida.
A mochila abandonada na grama, Clara apoiou as costas no tronco da árvore e fechou os olhos. Nos vinte segundos de sonho não lembrou de uma gota dágua espremida no olho vivo no alto da mangueira. Uma gota que foi caindo, ganhando velocidade, aumentando de tamanho...
Fim do sonho: Plof! A gota explodiu na cabeça de Clara.
Ela nunca entendeu, depois desse dia, quando exposta ao sol forte, o cabelo ficava sempre molhadinho.
F Wilson