domingo, 8 de fevereiro de 2009

A moça de fevereiro ou março



Berenice nasceu sob signo de aquários. Num domingo de carnaval, sua mãe, na maternidade, amamentava a filha e lia o jornal: o signo da menina previa tolerância do ser em meio a alegria.

A mãe só compreendeu aquele significado treze anos depois, numa matinal de domingo de carnaval no Jóquei Clube. Berenice se divertia com outras adolescentes quando sentiu o líquido a escorrer-lhe as pernas.
Desde então, o ciclo menstrual de Berenice caia sempre no domingo de folia. Era a pior de todas as menstruações do ano. A vagina não parava de sangrar, diariamente encharcava pacotes de absorventes.

"É a emoção do carnaval, Berenice," dizia a mãe, "tente fazer de conta que fevereiro não existe, que carnaval é ilusão."
Como? A data de aniversário, a televisão, a internet, as fantasias na escola. Tudo conspirava. Fevereiro não tem sentido.

Em 1980, já na universidade, vésperas de carnaval, Afrânio, colega de turma de Direito, perguntou:
"Gosta de carnaval, Berenice?"
"Gosto, mas não posso brincar."
"Por quê?"
Confidenciou-lhe o segredo.
"E você Já banhou na chuva de domingo de carnaval?"
"Nunca."
"Experimente, é a melhor chuva do ano."

Era meio-dia de domingo de carnaval daquele ano quando os dois abraçaram a chuva, e na chuva um beijo com gosto de sangue (ou de emoção) que escorria do nariz de Berenice.

f wilson

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