(foto: Anchieta Fernandes)
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Os Tarântulas na churrascaria do chinês (Parque Piauí). Da esquerda para a direita: J L Rocha do Nascimento, este blogueiro (sequaz), Bezerra JP, M de Moura Filho e Airton Sampaio.
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O ALGEBRISTA – ATO I
O ALGEBRISTA – ATO I
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por J.L.Rocha do Nascimento
por J.L.Rocha do Nascimento
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Quando desceu ao inferno, percebeu que o olho esquerdo tremia de forma intermitente. Não era medo. E nem havia com o que se preocupar. A equação estava resolvida. Ocorria sempre que ficava ansioso ou era submetido à pressão. Por isso, não se incomodou. Desceu mais um degrau. No terceiro, sentiu-se arder. À medida que descia, a fonte de calor aumentava. Tudo bem, não havia o risco de cozinhar o cérebro, disso tinha certeza. Não podia dizer o mesmo em relação ao resto do corpo. A cada passo dado, a sensação era a de que começava a descarnar. Ainda assim, resoluto, continuou. Precisava encontrar seu guia. Quando venceu a primeira encruzilhada, surgiu uma bifurcação. Antes de se decidir, cruzou-lhe o caminho um ancião de barbas longas. Desnudo, deslizava numa prancha de surf. Ofereceu-se para conduzi-lo à terceira margem. Já tenho guia, que me aguarda adiante, recusou gentilmente, em latim. Sem disfarçar a ira que lhe tomava a face enrugada, o ancião inflamou as têmporas e blasfemou em grego. Em seguida, numa manobra radical, sumiu no meio do nevoeiro. Decidiu então margear o rio de águas turvas que surgiu à frente, pela direita. Centenas de metros depois, o nevoeiro já desfeito, divisou uma grande árvore que outrora fora uma Oliveira. Ali, ao seu pé, um irlandês de testa longa e calvície reluzente fazia a primeira refeição. Sopa de números complexos. Tinha as costas voltadas para o sul e o olhar para uma incógnita. Antes de descarnar, respondia pelo mesmo nome que, como homenagem, dera ao único filho, fruto de uma relação com Dolores. Encontrara enfim o mestre. Aproximou-se lentamente. Foi denunciado pela temperatura do corpo. Está atrasado um milésimo de segundo, disse com precisão o mestre, não deixando margem a reticência. Sirva-se com algumas dessas variáveis. Estou entediado. E prepare-se, que a jornada será longa. Então, mestre, pode me levar até ao Geômetra? Detestava os geômetras, bem como aos seus círculos e quadrados redondinhos. A única queixa dos gregos. Detestava também quando o confundiam com um deles. Sou algebrista, dizia com firmeza e desdém.
Quando desceu ao inferno, percebeu que o olho esquerdo tremia de forma intermitente. Não era medo. E nem havia com o que se preocupar. A equação estava resolvida. Ocorria sempre que ficava ansioso ou era submetido à pressão. Por isso, não se incomodou. Desceu mais um degrau. No terceiro, sentiu-se arder. À medida que descia, a fonte de calor aumentava. Tudo bem, não havia o risco de cozinhar o cérebro, disso tinha certeza. Não podia dizer o mesmo em relação ao resto do corpo. A cada passo dado, a sensação era a de que começava a descarnar. Ainda assim, resoluto, continuou. Precisava encontrar seu guia. Quando venceu a primeira encruzilhada, surgiu uma bifurcação. Antes de se decidir, cruzou-lhe o caminho um ancião de barbas longas. Desnudo, deslizava numa prancha de surf. Ofereceu-se para conduzi-lo à terceira margem. Já tenho guia, que me aguarda adiante, recusou gentilmente, em latim. Sem disfarçar a ira que lhe tomava a face enrugada, o ancião inflamou as têmporas e blasfemou em grego. Em seguida, numa manobra radical, sumiu no meio do nevoeiro. Decidiu então margear o rio de águas turvas que surgiu à frente, pela direita. Centenas de metros depois, o nevoeiro já desfeito, divisou uma grande árvore que outrora fora uma Oliveira. Ali, ao seu pé, um irlandês de testa longa e calvície reluzente fazia a primeira refeição. Sopa de números complexos. Tinha as costas voltadas para o sul e o olhar para uma incógnita. Antes de descarnar, respondia pelo mesmo nome que, como homenagem, dera ao único filho, fruto de uma relação com Dolores. Encontrara enfim o mestre. Aproximou-se lentamente. Foi denunciado pela temperatura do corpo. Está atrasado um milésimo de segundo, disse com precisão o mestre, não deixando margem a reticência. Sirva-se com algumas dessas variáveis. Estou entediado. E prepare-se, que a jornada será longa. Então, mestre, pode me levar até ao Geômetra? Detestava os geômetras, bem como aos seus círculos e quadrados redondinhos. A única queixa dos gregos. Detestava também quando o confundiam com um deles. Sou algebrista, dizia com firmeza e desdém.
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Mas agora não havia outra saída, senão se curvar. Para realizar o seu objetivo, tinha que falar com o geômetra execrável. Era o único que tinha a chave. Em breve o mundo tomaria conhecimento da sua reformulação. A maior descoberta depois da obra prima do mestre, os quatérnios.
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O preço que teria que pagar, é certo, seria alto. A começar pela própria vida terrena.
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* Extraído do blog confraria tarântula. A segunda parte desse conto foi entregue ao Leonam (Moura Filho). Aguardemos qual o melhor da "troupe".
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