domingo, 26 de setembro de 2010

Eduardo Galeano


Janela sobre um homem de êxito

Não pode olhar a lua sem calcular a distância.
Não pode olhar uma árvore sem calcular a lenha.
Não pode olhar um quadro sem calcular o prego.
Não pode olhar um cardápio sem olhar as calorias.
Não pode olhar um homem sem olhar a vantagem.
Não pode olhar uma mulher sem calcular o risco.
 

 Janela sobre o corpo

A igreja diz: O corpo é uma culpa.
A ciência diz: O corpo é uma máquina.
A publicidade diz: O corpo é um negócio.
O corpo diz: Eu sou uma festa.


Janela sobre as paredes

Escrito em um muro de Montevidéu: As virgens tem muitos Natais, mas nenhuma Noite Boa.
Em Buenos Aires; Estou com ome. Já comi o f.
Também em Buenos Aires: Ressuscitaremos, ainda que isso nos custe a vida!
Em Quito: Quando tínhamos todas as respostas, mudaram as perguntas.
No México: Salário mínimo para o Presidente, para ver o que ele sente.
Em Lima: Não queremos sobreviver. Queremos viver.
Em Havana: Tudo é dançável.
No Rio de Janeiro: Quem tem medo de viver não nasce.

Eduardo Galeano: As Palavras Andantes; tradução de Eric Nepumoceno, 5ª ed. Porto Alegre. L&PM, 2007. Pags.: 52,125, 138.

Gravuras ilustrativas de J Borges, extraídas do livro citado.

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