segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Na sala de aula











(pintura de Herbert Veras, sob foto de Kenard Kruel)

O BURACO NA PAREDE


A hora do recreio bateu mas eu continuava na sala de aula a responder a prova. O professor de matemática, com pena ou tolerância do ofício, sacrificava os minutos de seu repouso esperando alunos retardatários na esperança de corrigir boas provas. Ele falava que corrigia as provas em companhia da sua mulher, na cama do seu quarto, enquanto ela xingava ou elogiava personagens da novela das oito. Logo na nossa sala, a oitava série que a dona Fátima, a diretora, considerava a mais problemática da escola. Ela achava que a nossa turma tinha como modelo o sobrinho dela, o Humberto, o burro. Era ele quem trazia na mochila uma furadeira elétrica.
- Vamos furar um buraco na casa do professor de matemática para ver ele corrigindo as provas? Sugeria ele, e o Alberto o continha:
- Tem um Pit-Bull de guarda lá, esquece.


Foi o idiota do Humberto quem passou pela janela do lado de fora me avisando que haviam descoberto o “buraco” (que havíamos feito no banheiro das meninas) fica na tua, porra, ele falava soprando e cuspindo medo, não sei como a gente suportava ele no grupo, além de medroso era burro e punheteiro vulgar. Na sala somente eu, a Valéria e o professor a pescar sonolento na sua mesa. A Valéria olhou para mim e fechou as pernas - o Humberto não passava de um idiota mesmo.
Entreguei a prova, acordando o professor. A Valéria também, atrás de mim. Olhei para ela da maneira descontraída de sempre, mas alguma verdade ou desconfiança ofuscou aquele momento, pois ela me olhou com desprezo, como se estivesse no banheiro descendo a calcinha e eu a bisbilhotar sua intimidade. Será que ela tinha entendido tudo? O pior era que sim; pior era ela ser a menina mais bonita da escola; pior era eu estar apaixonado por ela; pior era ser inteligente demais; pior era ela saber que eu era inteligente mas não tava com nada. Mesmo assim eu falei baixinho Valéria vá se foder, sua xoxota raspada não é tão bonita quanto a peludinha da Luana, ou da Clarice, ou da Michele, ou até mesmo da professora Kátia que fazia xixi no banheiro das alunas porque o banheiro das professoras estava o maior fedor quando entrava reclamando sentando seu traseiro branco no vaso e consumia todo o papel higiênico enxugando aquela bucetona cabeluda dela. Era o Renato que dizia que ela não raspava porque professora não tinha tempo nem pra raspar os pêlos pubianos. Aí o Humberto falou.
- Que negócio de pubianos, Renato, parece que é fresco.
- E tu é analfabeto, abestado!
- É, a Ritinha tá começando a crescer os pelinhos, otário.
- Filho da puta, combinamos não olhar as irmãs dos nossos aqui na escola, veado!
- Vai dizer pra diretora, tua tia também, a professorinha de inglês de unhas pintadas de vermelho tem a xoxotinha vermelhinha também.
Segurei Alberto, do canto da boca uma baba epiléptica espumava contra Humberto.
- Buraco na parede não obedece exceção, Alberto, deixa esse idiota pra lá, falei, tentando acalmá-lo, mas ele desabou no chão, tremendo todo o corpo do ataque que sofria.
Quando o socorro chegou para atender o coitado do Alberto, dona Fátima falou para nós num tom que conhecíamos.
- Os três na diretoria, agora!



f wilson

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