Colegas de Sarney na ABL se calam sobre escândalos no Senado
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Maurício Savarese
Do UOL Notícias Em São Paulo
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Eleito membro da ABL em 1980, o presidente do Senado não volta à sede desde setembro de 2008
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Eleito membro da ABL em 1980, o presidente do Senado não volta à sede desde setembro de 2008
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Se o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), sofre com a pressão dos colegas parlamentares e da mídia para deixar o cargo, há pelo menos um grupo do qual ele participa que aceita guardar silêncio obsequioso sobre as denúncias que o envolvem nos últimos meses: a Academia Brasileira de Letras (ABL), da qual é membro desde 1980 e que o recebeu na época apenas como um político metido a escritor.
Se o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), sofre com a pressão dos colegas parlamentares e da mídia para deixar o cargo, há pelo menos um grupo do qual ele participa que aceita guardar silêncio obsequioso sobre as denúncias que o envolvem nos últimos meses: a Academia Brasileira de Letras (ABL), da qual é membro desde 1980 e que o recebeu na época apenas como um político metido a escritor.
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"Ele está por fora do assunto", disse uma assessora do cientista político Hélio Jaguaribe. "O escritor João Ubaldo Ribeiro agradece a lembrança do seu nome, mas não tem interesse em fazer comentários sobre o seu confrade José Sarney", afirmou outra.
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"Prefiro não me manifestar. Sorry", informou o historiador José Murilo de Carvalho.
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"Ele acha que quem pode falar sobre isso é apenas o presidente da Academia", esquivou-se o bibliófilo José Mindlin, de acordo com sua secretária. O presidente da ABL, Cícero Sandroni, ocupado com uma série de eventos com intelectuais franceses no Rio de Janeiro, não retornou as ligações que pediam entrevista sobre o ocupante da cadeira 38, cujo patrono é o escritor e germanófilo Tobias Barreto (1839-1889) e que já foi ocupada pelo aviador Santos Dumont.
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A secretária do escritor Carlos Heitor Cony informou que ele também não poderia responder à reportagem por estar participando da mesma série de encontros de Sandroni, feita em celebração ao Ano da França no Brasil.
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A assessoria de imprensa da escritora Nélida Piñon pediu mais detalhes sobre o foco da reportagem e depois de obtê-los na manhã de quarta-feira não voltou a fazer contato.A assessoria de imprensa da ABL tampouco conseguiu contato para tratar do tema com o diplomata Affonso Arinos de Mello Franco, a escritora Ana Maria Machado, o cineasta Nelson Pereira dos Santos e o teatrólogo Sábato Magaldi. Informou apenas que Sarney não vai ao prédio da academia desde setembro do ano passado e que os acadêmicos, todos grandes intelectuais e com opiniões próprias, não têm espírito de corpo que os constrangesse a falar sobre o presidente do Senado.
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Procurados por correio eletrônico desde o início da semana, o jornalista Arnaldo Niskier, o escritor Paulo Coelho e o crítico de literatura Alfredo Bosi não responderam aos pedidos de entrevista.
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Buscados por telefone desde o início da semana, o diplomata Celso Lafer, o gramático Evanildo Bechara e o senador Marco Maciel (DEM-PE) não retornaram as ligações para comentar sobre o colega.
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Buscados por telefone desde o início da semana, o diplomata Celso Lafer, o gramático Evanildo Bechara e o senador Marco Maciel (DEM-PE) não retornaram as ligações para comentar sobre o colega.
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O secretário pessoal de Ariano Suassuna informou que o escritor está "incomunicável no sertão de Pernambuco, onde costuma descansar".
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A ABL conta com 40 cadeiras, a reportagem do UOL Notícias procurou 19 "imortais", como são conhecidos os membros do grupo.
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Apenas um aceitou conversar sobre o colega Sarney: o escritor Moacir Scliar.Exército de um homem sóAutor de diversos contos e livros, como "A Majestade do Xingu", "Um Centauro no Jardim" e "Exército de Um Homem Só", Scliar é membro da ABL há seis anos. Em meio a pedidos de renúncia feitos inclusive pelos colegas de Sarney no Senado, o escritor evitou condená-lo antes que as investigações sobre todas as denúncias sejam concluídas."Temos instrumentos democráticos e é importante confiar neles para resolver quando vivemos crises", afirmou em entrevista por telefone. Ele acrescentou também que "a crise envolve o Sarney político, não o membro da ABL". Scliar afirmou que a onda de denúncias nos jornais constrange os brasileiros e abala a fé deles de que haverá punição pelos eventuais desvios éticos que tenham sido cometidos com envolvimento de senadores."Como cidadão, confio nas investigações que vão se fazer, temos que respeitar todos os ritos de maneira democrática. Me coloco do lado de todos os brasileiros. Nós temos que aguardar e nossa maneira de intervir nesse processo é basicamente pelo voto, que repercute nos mesmos mecanismos que apresentam esses problemas hoje", disse.Scliar afirmou não recordar de outro momento em que um dos membros da casa tenha sido envolvido numa série de denúncias tão grave quanto as dirigidas a Sarney, com quem disse ter tido pouca convivência. Ele pondera que conhece várias outras pessoas se envolveram com problemas políticos e que fica "consternado por elas e pelo país".
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Sarney é acusado de usar sua influência para favorecer familiares e assessores e é presidente de uma Casa que sofre denúncias de mau uso de recursos públicos. Sustenta-se no cargo graças à influência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu aliado, e de setores da base de apoio do Palácio do Planalto que defendem sua permanência em favor da governabilidade.
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Obra literária. O antecessor de Sarney na cadeira 38 da ABL foi o escritor José Américo de Almeida (1887-1980), autor do livro "A Bagaceira", publicado há 81 anos. Especialistas consideram essa obra do autor paraibano como o marco fundador do romance regionalista do movimento modernista brasileiro.
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Em seu discurso de posse na ABL, Sarney, que já era senador e mais tarde se tornaria um dos artífices da candidatura de Tancredo Neves à Presidência da República, ocupando posto de vice em sua chapa, admitiu que sua cadeira era "marcada pela política". "Ela foi o fato capaz de, alcançando um tratamento transcendente, entrar nos domínios da arte, por intermédio da participação literária de seus ocupantes."Quando foi indicado, tinha publicado os livros "A Canção Inicial" (1952), "Norte das Águas" (1969) e "Marimbondos de Fogo" (1978), que não foram grande sucesso de público ou de crítica no Brasil nem no exterior. Depois da posse na ABL, publicou reedições dessas obras e escreveu outras: "10 Contos Escolhidos" (1985), "Brejal dos Guajas e Outras Histórias" (1985), "O Dono do Mar" (1995), "A Onda Liberal na Hora da Verdade" (1999), "Saraminda (2000), "Saudades Mortas" (2005) e "Tempo de Pacotilha" (2004), além de compilações de suas colunas em jornais.
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Enquanto ocupou o Palácio do Planalto, depois de Tancredo nem sequer assumir o cargo, Sarney teve "Norte das Águas" traduzido para inglês, espanhol, francês, alemão, russo, chinês, búlgaro e romeno. Depois de passar o cargo a Fernando Collor, viu "O Dono do Mar" ser vertido para inglês, francês, espanhol, grego, árabe e romeno. Mais tarde mereceu até filme em 2007, dirigido por Odorico Mendes.Especialistas consideram "O Dono do Mar" o melhor texto da carreira literária de Sarney.
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Os rivais preferem fazer piada ao dizerem que o livro deveria se chamar "O Dono do Mar Anhão". A história se desenvolve ao redor do pescador Antão Cristório, que perdeu o filho, Jerumenho, graças à vingança de um marido traído.O personagem central é Antão Cristório, um pescador que desde pequeno aprendeu a conhecer o mar e suas armadilhas. Há alguns anos, perdeu seu filho Jerumenho, vítima da vingança de um marido traído. A falta de perspectiva o faz viver do passado e ele passa a misturar fantasia com ficção.
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O site da ABL, que não inclui a atual passagem dele pela presidência do Senado, informa que Sarney é também membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, da Academia Maranhense de Letras, da Academia Brasiliense de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa.
Notícia circulada em 26.07.2009
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