Todo bem que faz uma calcinha
(Por David Coimbra)
As mulheres passaram milênios sem calcinha. Desde os albores da civilização, há pouco mais de 80 séculos, foram pelo menos 75 que elas viveram desprovidas dessa fundamental peça do vestuário, acarretando algum constrangimento na hora de cruzar as pernas, além de grave risco de resfriados.
Havia também desconforto para as amantes da equitação — no momento de montar à amazona, firmando um pé no estribo e passando a outra perna por cima da sela, as moças ofereciam um revelador e aprazível espetáculo para os rapazes da época. Assim, na pudica Idade Média foi inventada uma cadeirinha de madeira que era afixada no lombo do cavalo. As moças se viam alçadas até a cadeira e cavalgavam dessa forma, de ladinho.
Lógico, a solução mais prática seria o uso de calças, mas essa não era uma boa idéia. Os medievos viviam cheios de preconceitos e regras, algumas delas acerca das roupas femininas. Calças eram proibidas às mulheres e uma das que tentou vesti-las, a jovem Joana D’Arc, terminou seus dias amarrada em um poste e queimada numa fogueira, algo que quase todas as mulheres de então consideravam muito chato.
A vida continuou assim, nada parecia mudar na sombria Idade Média, até que Catarina de Médicis deixou a Itália para se tornar rainha da França. Catarina adorava cavalgar, em seus tempos de donzela de família rica, em Florença, parecia a versão feminina do Centauro. Mas, como rainha, havia de ter novos cuidados.
Para continuar montando à vontade sem que os vassalos antevissem as intimidades mais profundas da realeza, Catarina bolou uma espécie de calçola diminuta, peça que nada tinha a ver com as calças masculinas, mas que cobria as partes pudendas a contento.
Estava inventada a calcinha. Suprema invenção.
“se a calcinha trouxe benefícios às mulheres, bem mais trouxe para os homens”
As súditas, vendo as particularidades de sua soberana protegidas com tamanho aconchego, apreciaram a novidade e a adotaram com entusiasmo. Depois, numa atitude bem peculiar das francesas, passaram a empreender melhoramentos na invenção. Subtraíram nacos de pano daqui e dali, costuraram um adereço acolá, transformaram a calcinha, mais do que numa peça de roupa, num adereço.
Agora, se a calcinha trouxe benefícios às mulheres, bem mais trouxe para os homens. Porque, a partir daí, os homens passaram a ter o indizível prazer de tirar calcinha. As mulheres talvez não consigam compreender esse que é um dos momentos mais felizes da vida de um homem — quando ele, pela primeira vez, tira a calcinha de uma mulher há muito desejada. Diversos dos meus amigos afirmam que tirar a calcinha da mulher amada é melhor até do que o sexo subseqüente. Porque tirar a calcinha equivale a vencer as últimas resistências, a derrubar com um aríete as portas da cidadela sitiada.
Lá está aquela mulher cobiçada e linda, que seus amigos queriam, que seu chefe queria, que você sempre quis, e você prende as alças da minúscula calcinha dela entre os indicadores e os polegares, vai baixando a calcinha, baixando, baixando, e sorri, e olha para o teto, e pensa: obrigado, Senhor!
Calcinhas de lacinhos. Gosto muito.
Essa a emoção de baixar uma calcinha. Emoção que as mulheres jamais compreenderão. O sutiã. Elas cogitam muito do sutiã. E, claro, o sutiã tem o seu valor. Sobretudo o plec. É uma alegria, quando o sutiã faz plec!, ao se abrir. Mas o sutiã é meio complicado, vez em quando hostil, quando não inviolável. Além do mais, quem precisa de um sutiã aberto?
A calcinha, não. A calcinha, sendo retirada, representa o tesouro sendo desvelado. Representa a visão da Terra Prometida.
Vocês, mulheres, entenderam enfim o que significa, para nós homens, tirar a calcinha da amada?
Certo, agora, homens e mulheres pensem em Henrique. Foi ele, Henrique II, o primeiro homem do planeta a baixar uma calcinha. Porque Henrique II era o rei da França, marido de Catarina. Logo, coube a ele o privilégio de executar o primeiro baixamento de calcinha da História da Humanidade.
Que momento! Que homem feliz!
Mesmo tendo ele morrido da forma que morreu, com uma daquelas lançonas medievais espetada no olho, numa agonia lenta de 10 dias de duração, mesmo tendo sofrido morte tão terrível, acredito que, no derradeiro suspiro, Henrique possa ter lembrado do doce instante no qual baixou a mãe de todas as calcinhas e, então, Henrique compreendeu que sua vida teve um sentido.
E sorriu.
David Coimbra nasceu em Porto Alegre há 46 anos. Depois de trabalhar em mais de 10 redações do sul do Brasil, hoje é editor executivo de Esportes e colunista de Zero Hora, além de comentarista da TVCOM.
Havia também desconforto para as amantes da equitação — no momento de montar à amazona, firmando um pé no estribo e passando a outra perna por cima da sela, as moças ofereciam um revelador e aprazível espetáculo para os rapazes da época. Assim, na pudica Idade Média foi inventada uma cadeirinha de madeira que era afixada no lombo do cavalo. As moças se viam alçadas até a cadeira e cavalgavam dessa forma, de ladinho.
Lógico, a solução mais prática seria o uso de calças, mas essa não era uma boa idéia. Os medievos viviam cheios de preconceitos e regras, algumas delas acerca das roupas femininas. Calças eram proibidas às mulheres e uma das que tentou vesti-las, a jovem Joana D’Arc, terminou seus dias amarrada em um poste e queimada numa fogueira, algo que quase todas as mulheres de então consideravam muito chato.
A vida continuou assim, nada parecia mudar na sombria Idade Média, até que Catarina de Médicis deixou a Itália para se tornar rainha da França. Catarina adorava cavalgar, em seus tempos de donzela de família rica, em Florença, parecia a versão feminina do Centauro. Mas, como rainha, havia de ter novos cuidados.
Para continuar montando à vontade sem que os vassalos antevissem as intimidades mais profundas da realeza, Catarina bolou uma espécie de calçola diminuta, peça que nada tinha a ver com as calças masculinas, mas que cobria as partes pudendas a contento.
Estava inventada a calcinha. Suprema invenção.
“se a calcinha trouxe benefícios às mulheres, bem mais trouxe para os homens”
As súditas, vendo as particularidades de sua soberana protegidas com tamanho aconchego, apreciaram a novidade e a adotaram com entusiasmo. Depois, numa atitude bem peculiar das francesas, passaram a empreender melhoramentos na invenção. Subtraíram nacos de pano daqui e dali, costuraram um adereço acolá, transformaram a calcinha, mais do que numa peça de roupa, num adereço.
Agora, se a calcinha trouxe benefícios às mulheres, bem mais trouxe para os homens. Porque, a partir daí, os homens passaram a ter o indizível prazer de tirar calcinha. As mulheres talvez não consigam compreender esse que é um dos momentos mais felizes da vida de um homem — quando ele, pela primeira vez, tira a calcinha de uma mulher há muito desejada. Diversos dos meus amigos afirmam que tirar a calcinha da mulher amada é melhor até do que o sexo subseqüente. Porque tirar a calcinha equivale a vencer as últimas resistências, a derrubar com um aríete as portas da cidadela sitiada.
Lá está aquela mulher cobiçada e linda, que seus amigos queriam, que seu chefe queria, que você sempre quis, e você prende as alças da minúscula calcinha dela entre os indicadores e os polegares, vai baixando a calcinha, baixando, baixando, e sorri, e olha para o teto, e pensa: obrigado, Senhor!
Calcinhas de lacinhos. Gosto muito.
Essa a emoção de baixar uma calcinha. Emoção que as mulheres jamais compreenderão. O sutiã. Elas cogitam muito do sutiã. E, claro, o sutiã tem o seu valor. Sobretudo o plec. É uma alegria, quando o sutiã faz plec!, ao se abrir. Mas o sutiã é meio complicado, vez em quando hostil, quando não inviolável. Além do mais, quem precisa de um sutiã aberto?
A calcinha, não. A calcinha, sendo retirada, representa o tesouro sendo desvelado. Representa a visão da Terra Prometida.
Vocês, mulheres, entenderam enfim o que significa, para nós homens, tirar a calcinha da amada?
Certo, agora, homens e mulheres pensem em Henrique. Foi ele, Henrique II, o primeiro homem do planeta a baixar uma calcinha. Porque Henrique II era o rei da França, marido de Catarina. Logo, coube a ele o privilégio de executar o primeiro baixamento de calcinha da História da Humanidade.
Que momento! Que homem feliz!
Mesmo tendo ele morrido da forma que morreu, com uma daquelas lançonas medievais espetada no olho, numa agonia lenta de 10 dias de duração, mesmo tendo sofrido morte tão terrível, acredito que, no derradeiro suspiro, Henrique possa ter lembrado do doce instante no qual baixou a mãe de todas as calcinhas e, então, Henrique compreendeu que sua vida teve um sentido.
E sorriu.
David Coimbra nasceu em Porto Alegre há 46 anos. Depois de trabalhar em mais de 10 redações do sul do Brasil, hoje é editor executivo de Esportes e colunista de Zero Hora, além de comentarista da TVCOM.
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