sábado, 29 de agosto de 2009

Três poemas de Moura Filho

(não encontrei o autor da ilustração acima)

A TRAVA


Chegou a maldita, chegou a malvada!
Chegou com “fome” e com “sede” também.
O que fazer? só tenho um terço, amém.

A carniça bate na janela do quarto,
depois voltará, foi arrecadar mais gente
para povoação de lá; quando voltar, à porta entrará.

O tempo passa o tempo não é mais amigo.
Tenho medo. Será que o mundo de lá
é pior que o de cá?

Tive muito tempo para me preparar,
agora não é hora de reclamar.

Estou de pijama no quarto. Pego as malas,
mas para que? sei que não vou precisar!

Tenho o terço para rezar, porém a fé é pouca
e essa pouca fé me abandonou.

Espero que ela tenha muitos para levar.

Não tem jeito, está traçado.
É como se a trava que está no meu olho,
estivesse no olho do outro também.

Amém


FEIJÃO NA PANELA?

Pau medra mais que pão.
Pão sonho em vão.
Mão, prego e cruz.
Café, farinha menos cuscuz.
Pão e pau, quem vence?
- o mal.

DAS LUZES À ESCURIDÃO,
SÓ SOBROU UM RESTO DE PÓ.

Depois do homem, sobrou para os vaga-lumes;
para as baratas; vermes e CIA.
Na escuridão, na quentura do caixão,
nem o esqueleto sobrou.
A carne era fraca e a arrogância muito.
Sobrou só um resto de pó, que ao pó retornou.
Dia de pó, para o arrogante, que vivia só de aparências e paletó.

Moura Filho é um poeta de Teresina. Trabalha com contabilidade (como Fernando Pessoa) e teima em fazer poesia. Conheci-o ha poucos dias quando a Mazé (minha mulher) me apresentou alguns dos seus textos. Depois ele me mandou outros poemas via email e fui lendo mais devagarinho seus insistentes trabalhos. Moura Filho gosta de poesia , não faz poesia de graça. Na parada onde há o ponto da arte, ele espera e acena com a mão o ônibus que anda circulando a vida em preto-e-branco ou em cores.

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