(foto: shutterstock)
Por M de Moura Filho
Aqui estou na peleja. Minha trincheira não me protege. Não há armas. E poucas artimanhas uso: frente a frente com o adversário, dele me aproximo, já perdeu, já perdeu, entôou; corro à minha trincheira, e nela, como num ritual, desloco-me entre 7,32 metros, mirando-o, parando no centro, vez por outra, quando flexiono as pernas, abro os braços e lanço o torso para frente, com confiança.
O que vem a seguir é imponderável. O certo é que já sou mártir desde quando se assentou o projétil a 11 metros de onde me encontro. Não tenho por que (e não quero) me esquivar do tiro. Não como um suicida. Mas como super-herói, que, com os seus poderes, interrompe a trajetória do projétil, projetando-se, em voo, para um dos lados, ou mantendo-se onde me encontro.
Em simetria, recuo como o meu rival, sem dele tirar os olhos. Abro as pernas, e as flexiono; projeto-me para os lados com os braços. Movimento-me como pêndulo. O petardo é lançado. Salto. E, com as pontas dos dedos, toco-o. O bastante afastá-lo para a lateral. Uma multidão urra. Levanto-me. Sou festejado.
Em simetria, recuo como o meu rival, sem dele tirar os olhos. Abro as pernas, e as flexiono; projeto-me para os lados com os braços. Movimento-me como pêndulo. O petardo é lançado. Salto no vazio. Escapo do projétil que vaza a trincheira. Uma multidão urra. Levanto-me. Não tenho ninguém ao meu lado.
Nem me olham.
Não, não preciso ser herói. Basta que o rival tenha o seu inferno: a minha glória.
Texto extraído do blog Confraria Tarântula, lá postado em 09.11.2010
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