(foto sem credibilidade nenhuma)
Para Anchieta Fernandes, meu irmão, que me contou essa história.
Cueca de bolinhas
Era um professor severo, sábio. Quanto a isso nenhum aluno questionava. Talvez a eficiência no seu processo didático se desse além da objetividade: na ausência de lirismo e até mesmo na sua desmaterialização pessoal.
Mas o modismo impõe aos tempos certas normas estilísticas exteriores ao indivíduo. E a mídia avisa infernalmente: ou você me acompanha ou é criticado, passa o vexame dos diabos. Até mesmo a sua mulher, ou namorada, evitam sair com você.
E o cidadão que ignora a mídia, não consegue seu lugar nessa sociedade de rimas banalizadas pela moda do corte da tesoura? (Quando adolescente eu usava ridículas calças boca-de-sino e sapatos cavalo-de-pau).
Então o cidadão que se descuida da criação de acessórios fundamentais para se vestir no mundo de hoje é penalizado. Ele, crente em sua sinceridade de ordem interior, pessoal, se vestindo à jurisprudência social, acaba sendo sacaneado pela ditadura da roupa que não mais tolera o sujeito vestir cueca de bolinhas?
Aconteceu com o professor Jurismar. Alunos do pré-vestibular ainda bocejavam na sala quando o professor entrou. A porta de entrada era pelos fundos da sala. E logo as garotas acompanharam maliciosamente o andar de bolinhas vermelhas do professor Jurismar. Nenhum sinal de atrevimento aconteceu enquanto ele fazia os procedimentos de rotina. Chamada dos alunos, novidades da matéria ( Física ), número de concorrentes no vestibular etc - sentado à mesa, frente para os alunos que respondiam o “presente” gaguejando o sorriso de vingança tão esperado por eles, alunos.
Fatal a intenção maldosa. Bolas vermelhas se transformaram em sangue no rosto do professor que se voltou e encarou a turma, silenciada abruptamente. A vida de professor em sala de aula é um lado de composição - no quadro; outro de consonância - frente aos alunos. Mas em dia de bolinhas ninguém escuta música, nessa festa até Deus e o diabo fazem tim-tim. Refiro-me aos bons alunos e outros aloprados.
A desforra dos alunos feita entre-costas do professor, o barulho desses jovens, as convulsões de evadir o recinto pelo professor é tudo que aparenta o inferno. Se a revolução tem dois começos, não se vence de um golpe só. Jurismar apelou à direção. Ao deslumbramento do vencedor, segue sempre a humilhação, de quem tem o total apoio da autoridade.
O diretor Evandro adentrou a sala com a cara da ordem mais velha ou mais sacra do mundo. Antes mesmo de chegar ao estrado,junto ao quadro, onde Jurismar o esperava, Jesus Cristo, um aluno, interrompeu a caminhada do diretor.
— Diretor, por favor, sente-se entre nós e assista um pouco da missão do nosso professor Jurismar.
Cueca de bolinhas
Era um professor severo, sábio. Quanto a isso nenhum aluno questionava. Talvez a eficiência no seu processo didático se desse além da objetividade: na ausência de lirismo e até mesmo na sua desmaterialização pessoal.
Mas o modismo impõe aos tempos certas normas estilísticas exteriores ao indivíduo. E a mídia avisa infernalmente: ou você me acompanha ou é criticado, passa o vexame dos diabos. Até mesmo a sua mulher, ou namorada, evitam sair com você.
E o cidadão que ignora a mídia, não consegue seu lugar nessa sociedade de rimas banalizadas pela moda do corte da tesoura? (Quando adolescente eu usava ridículas calças boca-de-sino e sapatos cavalo-de-pau).
Então o cidadão que se descuida da criação de acessórios fundamentais para se vestir no mundo de hoje é penalizado. Ele, crente em sua sinceridade de ordem interior, pessoal, se vestindo à jurisprudência social, acaba sendo sacaneado pela ditadura da roupa que não mais tolera o sujeito vestir cueca de bolinhas?
Aconteceu com o professor Jurismar. Alunos do pré-vestibular ainda bocejavam na sala quando o professor entrou. A porta de entrada era pelos fundos da sala. E logo as garotas acompanharam maliciosamente o andar de bolinhas vermelhas do professor Jurismar. Nenhum sinal de atrevimento aconteceu enquanto ele fazia os procedimentos de rotina. Chamada dos alunos, novidades da matéria ( Física ), número de concorrentes no vestibular etc - sentado à mesa, frente para os alunos que respondiam o “presente” gaguejando o sorriso de vingança tão esperado por eles, alunos.
Fatal a intenção maldosa. Bolas vermelhas se transformaram em sangue no rosto do professor que se voltou e encarou a turma, silenciada abruptamente. A vida de professor em sala de aula é um lado de composição - no quadro; outro de consonância - frente aos alunos. Mas em dia de bolinhas ninguém escuta música, nessa festa até Deus e o diabo fazem tim-tim. Refiro-me aos bons alunos e outros aloprados.
A desforra dos alunos feita entre-costas do professor, o barulho desses jovens, as convulsões de evadir o recinto pelo professor é tudo que aparenta o inferno. Se a revolução tem dois começos, não se vence de um golpe só. Jurismar apelou à direção. Ao deslumbramento do vencedor, segue sempre a humilhação, de quem tem o total apoio da autoridade.
O diretor Evandro adentrou a sala com a cara da ordem mais velha ou mais sacra do mundo. Antes mesmo de chegar ao estrado,junto ao quadro, onde Jurismar o esperava, Jesus Cristo, um aluno, interrompeu a caminhada do diretor.
— Diretor, por favor, sente-se entre nós e assista um pouco da missão do nosso professor Jurismar.
O diretor olhou o professor Jurismar que assentiu ao reclame de Jesus.
— Tudo bem, professor, faça sua aula, por favor, disse o diretor.
No giro do professor para rabiscar o quadro a gargalhada se derramou mais ainda com a presença da autoridade.
Apesar dos esforços do diretor para que o professor continuasse na escola, Jurismar pediu as contas.— Tudo bem, professor, faça sua aula, por favor, disse o diretor.
No giro do professor para rabiscar o quadro a gargalhada se derramou mais ainda com a presença da autoridade.
F Wilson
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