domingo, 31 de agosto de 2008

O CORVO


Por J.L. Rocha do Nascimento

Não me lembro de quando tudo começou. Lembro-me que primeiro vieram os pardais, depois algumas graúnas, em bandos. Os sabiás, logo em seguida, não paravam de cantar. Por fim, pousou um falcão e ele era garboso, as asas tocando o chão, um olhar imponente, todos pareciam lhe render homenagens. Pouco a pouco, uns silenciosamente outros batendo as asas, foram se aninhando, o que até me divertia. No início ainda tentei afugentá-los, mais pela sujeira que deixavam do que pelo peso sobre minha caixa craniana. Não demorou e eu desisti, mesmo porque eram alegres e simpáticos, cada um com uma plumagem mais bonita do que outra, eu podia dizer que a vida até que estava colorida. E viviam em perfeita harmonia, assim concluía, àquela época. Vinham sempre no final da tarde, quase sempre em bandos e na manhã seguinte, em revoada, batiam suas asas, o destino eu ignoro, mas sempre estavam de volta ao entardecer, com o papo cheio, como se costuma dizer, até que um dia não voltaram mais. Algo os assustou e sei o motivo. Foi quando chegou o corvo, com seu canto de mau agouro e seu bico curto e afiado, sua veste negra como o breu da noite, nenhuma candura havia nele. Foi um duro golpe, justo no momento em que eu começava aprender o canto do sabiá eles se foram. Sinto saudade, ainda que tivesse, toda manhã, que aspergir os cabelos, antes de penteá-los, para remover sementes, restos de insetos e pequenos frutos deixados para trás.O corvo, quando pousou, de imediato abriu uma clareira em volta com suas garras afiadas. Coincidentemente, meus cabelos começaram a cair. E não parava de grasnar, de forma tão sombria que assustava a coruja em frente. Aliás, minto, parava quando sentia fome, imagino. Aí então começava a bicar mais fortemente, que nem uma britadeira de asfalto. De tanto insistir, abriu-se um buraco no meu cérebro do tamanho de uma cratera lunar, embora aqueles açougueiros, que se autodenominam médicos, digam que, na verdade, a tal cratera foi conseqüência de uma queda acidental. Certo dia bicou tanto que levou meu lobo temporal e se alojou no lugar. Dali só saía à noitinha, quando todos em minha volta estavam dormindo, mas logo retornava com restos de vísceras em volta do bico, sempre ele. Foi a partir desse momento que me veio essa apatia que alterno com raros momentos de euforia, que é quando vejo paredes no lugar de portas e estas no lugar daquelas. Todas as pessoas segundos depois de vê-las me parecem estranhas. Essas mesmas pessoas, que se queixam ser da família, do que não me convenço, dizem não acreditar que na minha cabeça há esse demônio como inquilino, nessa altura já pensando no melhor meio de se reproduzir.Insisto em dizer que não estou louco. E mais: neste momento o corvídeo está comendo o que me resta dos neurônios, agora em silêncio, que é pra não chamar atenção. E eu é que não tenho culpa se eles não conseguem sequer enxergar suas alas negras. Talvez no dia em que elas cobrirem meu corpo como um manto negro é que irão acreditar em mim, mas aí já terá sido tarde, eu creio. O corvo, impune, baterá asas.

(Extraído do blog Emerson Araújo)

sábado, 30 de agosto de 2008

Jimi Hendrix

Há um superlativo que não se questiona no rock: a guitarra do Hendrix. Insuperável.
“Jimi Hendrix Experience” sabia do seu potencial artístico-musical: no lugar certo, na hora certa, no solo, no sol, mortal, imortal. Agudos da “Fender” atravessaram quarenta anos e novas gerações continuam procurando em braços de guitarras milhares de “notas”, pedras de ouro nas partituras do caminho por onde Jimi Hendrix passou.
O disco, abaixo, foi o melhor “ao vivo” que já ouvi do Hendrix. Confiram baixando o disco pelo link do
http://theultimatebootlegexperience.blogspot.com

Francisco Wilson

Jimi Hendrix - 1970 - 01 - 01 - Filmore East (Concert)


(Soundboard)

Disc 1:
1. Stone Free 2. Them Changes
3. Power Of Soul 4. Message Of Love
5. Earth Blues 6. Machine Gun
Disc 2:
1. Voodoo Child (Slight Return)
2. We Gotta Live Together 3. Wild Thing
4. Hey Joe 5. Purple Haze


http://rapidshare.com/files/138188474/bogIV.part1.rar

http://rapidshare.com/files/138188660/bogIV.part2.rar

Na sala de aula


OLHOS DE MUTANTE


Foi meu irmão Serginho quem adentrou a casa gritando.
- Mãe, o sol tá ficando preto!
Não me mexi, fiquei no quarto estudando. Todos os dias acontecia maluquices naquela cidade, uma cidadezinha do interior do Piauí onde meu pai havia sido transferido há um ano.
Mamãe correu até a porta. Na rua as pessoas olhavam para o céu protegendo os olhos da luz solar com a palma da mão, com negativos de fotografia ou com placas de raio-x. Uma certa confusão entre cépticos e ascéticos se formou. Falavam alto em tom desespero. Diziam que aquele eclipse era pra valer e que o sol não voltaria. Na esquina improvisaram um bolsa de aposta. Duvido se os perdedores pagariam a aposta se tudo ficasse escuro para sempre. Um bêbado não parava de grunhir: “o fim está próximo!”. Mães agarravam suas crias e choravam.
- É só um eclipse, mãe, e esse povo é maluco, falei para ela que já parecia estar envolvida na situação.
Não adiantava explicar, quem ia acreditar em um menino de 12 anos? Fiquei calado vendo uma multidão passar em romaria em direção à igreja, cantando, rezando o terço, queimando dedos nas velas, temendo o fim do mundo.
Ao meio-dia nenhuma nuvem no céu. Entre o sol e a terra o outro lado da lua - cansada de tanto romantismo barato, em datas agendadas por cientistas, profetas, curandeiros, macumbeiros e outros astrônomos – atravessava o diálogo bíblico da grande estrela e do planeta terra.
Os minutos metiam à escuridão na luz, os olhos mediam os minutos do fim. De repente tudo ficou escuro como o breu da noite, como se tivessem desligado o interruptor de luz, não de um quarto, mas do mundo.
Gritarias e lamentos se intensificaram. A escuridão é a pior das torturas. Ouvi confissões, nelas reconhecidas vozes. Mortes não esclarecidas, traições conjugais, dívidas não pagas. Tantos crimes capitais jogados no poço do fim do mundo.
Deus perdoou os pecados daquela gente. Lentamente uma brechinha de luz foi iluminando a cidade pecadora, e que ia se abrindo na medida em que eles gritavam em coro: “Aleluia, aleluia!”.
Preguei os olhos naquele momento, olhando fixamente sol e lua cansados do estranho coito galáxio. Tanta concentração encheu meus olhos de brilhos, como folguedos explodindo no céu. Eram brilhos de todas as cores, de todas as formas. Senti meu pênis rígido e de repente ejacular preso na roupa. Foi quando desmaiei entre a multidão no meio da rua.
Acordei à meia-noite, na cama do meu quarto. Abri os olhos e vi minha tia Juliana, totalmente sem roupa, peladinha, me perguntando se estava tudo bem, o rosto no meu rosto, os bicos dos seios dela tocando no meu peito. Eu estava sonhando? Tia Juliana sempre foi uma mulher moralista, nos seus trinta anos nunca homem algum viu ou tocou no seu corpo. Ela me fazia carinho como se fosse para voltar à vida, era um sonho? Eu nada respondia, estava atordoado.
- Vou chamar sua mãe, Mariinha vai ficar alegre que você voltou.
Tia Juliana foi caminhado até a porta, na beleza pura de sua nudez. O que estava acontecendo?
Coçei os olhos e abri: via o outro lado da parede, tia Juliana descendo as escadas, ainda pelada. Eu estava vendo a transparência das coisas. E a minha mãe que vinha? Pelada também? fechei os olhos e a escuridão me atendeu. Que alívio!

Levantei tateando alguns passos até a janela do meu quarto, abri os olhos e fixei a lua. Estava mais estranha do que nunca. Li uma reclamação na sua cor: por eu ter flagrado sua intimidade com o sol, um pequeno castigo!


Francisco Wilson

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Charge


Samuca

A poesia é necessária


Dúvida

Que arma repousa
Sobre o armário?
Que alma medita
Sob o armário?

Pensamento: contorno de aço
Roleta girando no espaço
A mente entre a agulha
E a bala fria

Que pesadelo grita
Sobre o armário?
Que alma indecisa
Na contramão da vida?


F. Wilson

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Rock progressivo

Quando baixei esse disco esperava ouvir mais um rock progressivo. Assim acompanhei a primeira música, a segunda, terceira – quase desisti de continuar ouvindo. Até que o órgão ou sintetizador entraram na órbita da música clássica. Os solos de guitarra se impuseram numa independência de deixar o restante do grupo comendo mosca. O que dizer das digitais acrobatas saltando de corda em corda ao longo do contrabaixo? O baterista só obedecia a um deus: ao do improviso. Ela não podia faltar: a deusa das grandes orquestras, a flauta! Seu assovio preparando ou encerrando o apogeu de cada música.
Uma dica: comece escutando da última música.
Boa diversão!

Francisco Wilson

JUNIPHER GREENE was a Norwegian progressive rock band who were formed in Oslo in 1967. The initial line-up included Bent Aserud on guitars, keyboards, flute and vocals, Geir Bohren on lead vocals, drums and sax, Helge Groslie on keyboards, Freddie Dahl on guitar and vocals and Oyvind Vilbo on bass. They released their ambitious debut album in 1971 called "Friendship". It stands as one of Norway's earliest progressive album and the country's first double LP.They were one of Norway's best bands together with RUPHUS and HOST, although they only released one album in 1973 "Communication" (also very good) before splitting in the mid 70s. Two compilation albums, "Best Of" (1975) and "Rewind" (1981), which also featured a number of unreleased tracks recorded between 1969 and 1980, were issued. Helge Groslie left the band to join TITANIC in 1972, Aserud and Bohren kept the JUNIPHER GREENE name for various incarnations during the 80s, although these were very different to the original group. They've since built a reputation as the creators of Norwegian movie soundtracks.
Written by Andrew (Italy)
Friendship - 1971


Link do Masterpiece - Ex-Acorde Final
http://sharebee.com/d6a785a2

domingo, 17 de agosto de 2008

Do blog;"Vida noves fora zero"
















O Plano*
Deu-lhe um safanão. Acordou-o.
“Quem é Gertrude?”, sussurrou visivelmente brava.
Respondeu, ainda aturdido pelo despertar ab-rupto, que Gertrude era uma personagem de um trabalho.
Ela olhou-o mais furiosa. Sim, introduziria, definitivamente, vidros moídos no cardápio.
L de Moura Filho(Leonam)
(Ilstração sem crédito)

sábado, 16 de agosto de 2008

UNHAS


Unhas

Unhas na pele
Extremidade do ego


Células suicidas
Na extremidade do ser

Esmalte: camuflagem
de vaidade, de desejos



f wilson







DO BLOG AIRTON SAMPAIO BLOG


"E VIVA O ROCK!"
ZÉ DA ÉGUA
O contista M. de Moura Filho, cujo belo blog está com endereço neste MEU pobre blog indicado, tem minha companhia nas duas antipatias que nutre: o PT e o socialismo, especialmente o cubano. Ou uma merda que mantém um "comandante" há cinqüenta anos no poder lá é referêcia de coisa alguma? Queria ver, grande contista, era se os "comunistas" deixariam o Zé da Égua blogar, com liberdade de expressão, a partir de Cuba... E já pensou se por aqui o Lula e sua turma e o WD e sua turma pudessem ficar tanto tempo no poder? Eu, como milhares de cubanos fizeram e sempre que podem ACERTADAMENTE fazem, me mando pra Miami. Caetano, com a sagacidade que lhe é peculiar e sem ser nenhum Quixote, já disse: "mamãe eu quero ir a Cuba, MAS QUERO VOLTAR". Eu nem ir quero. Aliás, indiquei, também neste MEU pobre blog PESSOAL, gostem ou não os comunistinhas de araque, um endereço pedagógico, não me importa se "financiado" ou não pela CIA (como se os "comunas" não adorassem um financiamentozão...): http://todaditaduraehumamerda.com. Abaixo QUALQUER ditadura! Abaixo fascitas e comunistas, duas faces da mesma moeda! E VIVA O ROCK!
Airton Sampaio
(A CARICATURA ILUSTRATIVA DO MAIOR GUITARRISTA DE TODOS OS TEMPOS É APENAS PARA INVOCAR A FRASE DO AIRTON:"E VIVA O ROCK!"
francisco wilson


JAZZ

A música jazz americana sempre esteve associada ao romantismo, às telas do cinema, aos salões enfumaçados de cigarro, jogos de cartas marcadas, porres de uísque, duelos imprevisíveis.
Na vida real o jazz encanta mais ainda.
Dedos ágeis sobre teclas do piano ou percorrendo o braço de uma guitarra fazem da música jazz coadjuvante em um convite para dançar. A arte da boa música é a mesma da conquita: alguns passos, o momento do bote, a palavra certa, a queda.
Confiram baixando os discos. Coletâneas reunindo os grandes nomes do jazz.
f wilson

VA - Atlantic Jazz - Piano
1990 - 320 Kbps - Mp3 - Jazz - Time: 70:07
01.Erroll Garner - The Way You Look Tonight (Remastered LP Version) 03:1502.Mary Lou Williams - In The Purple Grotto (LP Version) 03:0403.Lennie Tristano - Line Up (LP Version) 03:35 04.Phineas Newborn Jr. - Celia (LP Version) 03:0805.Ray Charles - Sweet Sixteen Bars (LP Version) 04:0806.Art Blakey & Thelonius Monk - In Walked Bud (LP Version) 06:4007.John Lewis - Delaunay's Dilemma (Album Version) 04:2908.McCoy Tyner - Lazy Bird (LP Version) 03:3109.Bill Evans - Nirvana (LP Version) 06:4310.Dwike Mitchell - Young Soul (LP Version) 04:1511.Joe Zawinul - My One And Only Love (LP Version) 03:5512.Junior Mance - Sweet Georgia Brown (LP Version) 05:4313.Herbie Hancock - Einbahnstrasse (LP Version) 07:2114.Ray Bryant - Blues #2 (LP Version) 03:4315.Keith Jarrett - Pardon My Rags (LP Version) 04:3616.Dave Brubeck - Koto Song (LP Version) 05:11
http://rapidshare.com/files/134813739/Atlantic_Jazz_-_Piano__1996__-_320_Kbps_-_MP3_-_Musica_do_Bem.part1.rar
http://rapidshare.com/files/134830088/Atlantic_Jazz_-_Piano__1996__-_320_Kbps_-_MP3_-_Musica_do_Bem.part2.rar







VA - Jazz For Lovers - Unforgettable Songs - Vol 2Jazz - 320 Kpbs - 1997
1. Ella & Armstrong - Check To Check2. Chet Baker - There Is No Greater Love3. Dinah Washington - Mad About The Boy4. Brad Meldhau - River Man5. Eva Bessman - When I Wake Up6. Dusty Springfield - The Look Of Love7. Duke Ellington - Everything Goes8. KD Lang - Trail Of Broken Hearts9. John Coltrane - You Are Too Beautiful10. Carmen McRae - When I Fall In Love11. Joshua Redman - Neverend12. Shirley Horn - Watch What Happens13. Al Jarreau - Grandma's Hands14. Charlie Parker - April In Paris15. Betty Carter - I Should Care16. Count Basie - Lester Leaps In17. Renée Olstead - Taking A Chance On Love18. Dizzy Gillespie - lLong Long Summer19. Abbey Lincoln - Live For Life20. Christine Massena - Signed Sealed Delivered
http://rapidshare.com/files/133450478/JazzForLovers-Volume__II-VA.part1.rar
http://rapidshare.com/files/133450827/JazzForLovers-Volume__II-VA.part2.rar

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

terça-feira, 12 de agosto de 2008

A poesia é necessária

(planeta recém-nascido - foto UOL)

Mistério

O universo é ficção
Enraizada na insanidade
Do homem

Estrelas que brilham no firmamento
Cegam
Luzes que brilham na razão

F wilson

Do blog "Confraria Tarântula - Uma Academia sem Acadêmicos"

MOTEL 69

..., motocicleta, porta, luz, penumbra, sapatos, sandálias, meias, blusa, camisa, sutiã, cinturão, microssaia, calça, calcinha, cueca, ..................................................................... , cueca, calcinha, calça, microssaia, cinturão, sutiã, camisa, blusa, meias, sandálias, sapatos, penumbra, luz, porta, motocicleta, Lua, ...

Airton Sampaio

Cotidiano

Como se fosse


Havia já quinze dias que Sérgio faltava com Alice, quando ela lhe telefonou.
- Sumiu, o que aconteceu?
-Ando meio atarefado – Sérgio dava um tempo, procurando uma explicação plausível para um fim sem dor.
- Devia, pelo menos, ter me telefonado.
- Certo, devo algumas desculpas.
- Aconteceu uma coisa.
Ouviu-a suspirar do outro lado da linha. Silêncio, suspense. Esperava o gato pegar o passarinho no ar.
- Algo sério?
- Estou com três semanas de atraso. Isso é algo sério?
Certos casais sairiam dançando na chuva com essa notícia
- Preocupante, talvez.
- O Luís sempre quis ter um filho.
- Pensava que você tinha me dito que ele era estéril.
- É, mas o médico dele dizia para não perder as esperanças, um dia ele poderia me engravidar.
- Ele?
- É como se fosse. Luís é fisicamente parecido com você.
- Só isso?
- Ele será um bom pai. Adeus.


F Wilson

Caricatura


Vinicius de Moraes
Fernandes / São Paulo

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Na sala de aula











(pintura de Herbert Veras, sob foto de Kenard Kruel)

O BURACO NA PAREDE


A hora do recreio bateu mas eu continuava na sala de aula a responder a prova. O professor de matemática, com pena ou tolerância do ofício, sacrificava os minutos de seu repouso esperando alunos retardatários na esperança de corrigir boas provas. Ele falava que corrigia as provas em companhia da sua mulher, na cama do seu quarto, enquanto ela xingava ou elogiava personagens da novela das oito. Logo na nossa sala, a oitava série que a dona Fátima, a diretora, considerava a mais problemática da escola. Ela achava que a nossa turma tinha como modelo o sobrinho dela, o Humberto, o burro. Era ele quem trazia na mochila uma furadeira elétrica.
- Vamos furar um buraco na casa do professor de matemática para ver ele corrigindo as provas? Sugeria ele, e o Alberto o continha:
- Tem um Pit-Bull de guarda lá, esquece.


Foi o idiota do Humberto quem passou pela janela do lado de fora me avisando que haviam descoberto o “buraco” (que havíamos feito no banheiro das meninas) fica na tua, porra, ele falava soprando e cuspindo medo, não sei como a gente suportava ele no grupo, além de medroso era burro e punheteiro vulgar. Na sala somente eu, a Valéria e o professor a pescar sonolento na sua mesa. A Valéria olhou para mim e fechou as pernas - o Humberto não passava de um idiota mesmo.
Entreguei a prova, acordando o professor. A Valéria também, atrás de mim. Olhei para ela da maneira descontraída de sempre, mas alguma verdade ou desconfiança ofuscou aquele momento, pois ela me olhou com desprezo, como se estivesse no banheiro descendo a calcinha e eu a bisbilhotar sua intimidade. Será que ela tinha entendido tudo? O pior era que sim; pior era ela ser a menina mais bonita da escola; pior era eu estar apaixonado por ela; pior era ser inteligente demais; pior era ela saber que eu era inteligente mas não tava com nada. Mesmo assim eu falei baixinho Valéria vá se foder, sua xoxota raspada não é tão bonita quanto a peludinha da Luana, ou da Clarice, ou da Michele, ou até mesmo da professora Kátia que fazia xixi no banheiro das alunas porque o banheiro das professoras estava o maior fedor quando entrava reclamando sentando seu traseiro branco no vaso e consumia todo o papel higiênico enxugando aquela bucetona cabeluda dela. Era o Renato que dizia que ela não raspava porque professora não tinha tempo nem pra raspar os pêlos pubianos. Aí o Humberto falou.
- Que negócio de pubianos, Renato, parece que é fresco.
- E tu é analfabeto, abestado!
- É, a Ritinha tá começando a crescer os pelinhos, otário.
- Filho da puta, combinamos não olhar as irmãs dos nossos aqui na escola, veado!
- Vai dizer pra diretora, tua tia também, a professorinha de inglês de unhas pintadas de vermelho tem a xoxotinha vermelhinha também.
Segurei Alberto, do canto da boca uma baba epiléptica espumava contra Humberto.
- Buraco na parede não obedece exceção, Alberto, deixa esse idiota pra lá, falei, tentando acalmá-lo, mas ele desabou no chão, tremendo todo o corpo do ataque que sofria.
Quando o socorro chegou para atender o coitado do Alberto, dona Fátima falou para nós num tom que conhecíamos.
- Os três na diretoria, agora!



f wilson

sábado, 2 de agosto de 2008

A poesia é necessária

Faminto

Os olhos desejam
A boca realiza

Quem usa a língua para lamber
Bebe a saliva do prazer

Quem prefere os dentes
Morde peito de mulher contente

Dedo de prosa escorrega
No beijo que antecipa a entrega

Sendo presa fácil o amor
Tambores cantam ao brotar a flor

O corpo garras de predador
Abate a carne nutrida de amor

Um dia da caça outro do caçador
Um dia em casa outro no corredor


F Wilson

A poesia é necessária


(Av. Miguel Rosa. Foto: Wilson)
Poesia cruzando avenida


Fixo meu olhar
....................................Distante

Na distância
Aonde mais longe vai
A avenida ligeira

Perdida no tempo presente
Longe de um tempo ausente
Minha memória cruza
Em passos lentos
A faixa do tempo

Cruzamento breve
De sonho e de vida
....................................Vacilo

Carros velozes atropelam
O meu pensamento

F Wilson