quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

J.L. ROCHA NASCIMENTO

Ao som dos primeiros movimentos, lembro-me da fatídica viagem, de como e de quando lá chegamos. Um pequeno povoado. Deserto, poeirento e debaixo de um sol de cozinhar. Entramos. A taberna era rústica e suja. Mariachis dedilhavam suas guitarras ao fundo. Ao longe, um lamento forjado ao sopro de um trompete. Violinos orquestrados compunham, por fim, o cenário. O taberneiro suarento, sempre esfregando as mãos numa toalha encardida, nos serviu, em tigelas de barro, algo muito travoso para ser vinho. Ela não gostou. Nada que lembrasse as sessões homéricas de vinho tinto, uvas Itália e morangos silvestres. Ao lado, uma linha, uma velha estação, o vaivém barulhento de uma porta. A civilização já passou por aqui. É. Brincando, ela fez um longo enquadramento com as mãos. Tarantino ou Sérgio Leone? O original, eu disse.
.
Enquanto o trompete agoniza, entrecortado pelo dedilhar suave sobre a harpa, lembro também de como, aproveitando uma pequena trégua, tentei penetrar aqueles olhos, mas os cabelos, desalinhados pelo vento, debatiam-se por sobre o rosto, tirando-me a visão das amêndoas negras. Se os visse, se os penetrasse fundo, imaginei, talvez a demovesse da idéia, como naquele final de tarde em que, ao fim, embeberam-se uns nos outros, brilharam-se uns pros outros e juraram-se uns aos outros.
.
Queria uma última chance. Julgava que tinha me esforçado. Tanto que, no prelúdio, os dedos ainda se tocaram, embora sem a harmonia de antes. Mas logo percebi que seria impossível reproduzir o monólogo das mãos.
.
E nada foi mais doloroso do que o movimento final, anunciado pelas notas graves e marcadas do violoncelo. Quando, de repente, se ergueu e selou-me o rosto com um beijo. Meus olhos cerraram-se, repeliram qualquer movimento na tentativa de reabri-los. O receio era o de perceber o óbvio. E sumiu lentamente na poeira arrastada pelo vento - que também abria e fechava portas -, nas ondas tremulantes de calor. Ficou a sensação de uma miragem, nada além.
.
Nunca mais a vi. A não ser quando ouço concierto de aranjuez, como agora, na voz de Nana Mouskouri. Milles Davis que me perdoe com o seu adágio.
.
É noite de natal. Mais alguns instantes e os ponteiros estarão sobrepostos. O vizinho do lado ouve Noite Feliz. Que vinho ele bebe, não sei. A mulher corre pra cozinha. As crianças, em torno da árvore, aguardam com ansiedade a chegada do bom velhinho.
.
Pobres coitados. Pobre de mim.
.
Não sei qual dos mundos merece mais compaixão.
.
J. L. Rocha do Nascimento
.
Extraído do Blog Confraria Tarântula

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Sem palavras

Gerad Hoffnum


Sinfônica de Berlim


Villa Lobos


Gato guitarrista

RCA

Clara Haskil

Karajan

Karajan

Jacqueline Du Pré

Orquestra de bichos

Vanessa Mae

Janine

Jacqueline Du Pré

sábado, 21 de novembro de 2009

Acesse


O professor e escritor Airton Sampaio simplesmente critica o mal feito que se faz no Piauí. O mal, o pior, os doentes na política e os sintomas graves na nossa literatura. É fácil enxergar o que ele diz, mas difícil para tapados acomodados aceitarem a crítica apurada.

Na Sala de Aula


CHICLETES

Luisa caminhava lentamente, preocupada com a tarefa não feita. Inventar outra desculpa: "professor, tô de caderno novo", ou "fui ao centro fazer compras com a mamãe". Não ia mais colar. Ele olha no olho da gente e vê que tem mentira. O pior é que ele sempre tem uma piadinha para cada desculpa: "caderno novo, coitado do velho, nunca mais vem à escola". A Aninha foi cair na besteira de dizer que não tinha feito a tarefa porque tinha ido pra casa da avó dela que tava doente, aí o professor perguntou se ela não tinha encontrado o lobo mau no meio do caminho. Mas o pior foi a Zélia. Também, a burra foi dizer que não tinha feito a tarefa porque havia chovido. E a turma, claro, nem esperou ele perguntar se a chuva tinha alagado a tarefa dela. Caíram todos na gargalhada. Fiquei com pena da Zélia.
.
.
Levantou os olhos e avistou Carlinhos. Acelerou o passo para a salvação.
-- Carlinhos, espera! Gritou.
O menino ajeitou os óculos para ver a amiga correndo, arrastando a pesada mochila escolar. Chegou até ele, ofegante.
-- Respira um pouco, estamos atrasados, disse ele.
-- Pega um chiclete, ofereceu a menina.
-- Não quero mais chiclete.
-- Por quê?
-- Todo adulto briga. Minha mãe, tia, professora e aquele professor vive dizendo que tem bosta de porco na bula do chiclete. Chega, não quero mais chiclete.
-- Fica assim mesmo, guarda, é só um chiclete.
-- Além do mais cor-de-rosa, pega mal, se os panacas da escola me verem, vão me encher o saco.
A menina sorriu, estendendo a delicada mão onde pequenos dedos apertavam o chiclete macio. Carlinhos aceitou e guardou no bolso. Depois continuaram o caminho da escola.
-- Não fiz a tarefa.
O menino não viu desespero na fala dela.
-- Você não me ouviu, não fiz a tarefa.
-- Estamos atrasados, minha mãe vai me chatear porque não cheguei à escola na hora.
-- Dá tempo copiar, vai sujar comigo?
O menino tirou o caderno da mochila e o entregou a Luísa. Ela soprou aliviada, sentou ali mesmo na calçada e abriu sua mochila a procura do caderno.
-- Me dá cobertura, mastiga o chiclete, disse ela.
-- Pra quê?
-- Vai começar de novo?
-- Acho bom você se levantar, estou vendo o carro do professor, vai passar por nós.
-- Merda!
A menina se levantou depressa e eles continuaram o caminho pela calçada. Adiante o carro parou. O professor baixou o vidro.
-- Estão atrasadas, crianças, entrem no carro.
Eles se entreolharam. Luísa xingou o silêncio e o menino deu de ombros.
.
.
Na sala de aula Carlinhos mordia ferozmente o chiclete que ganhou de Luísa. Hoje acerto contas com eles, pensava. O chiclete estava na liga perfeita, mastigava agora de maneira vulgar, para ser percebido; soprou uma bola que estourou no ouvido da professora. Conseguiu o que queria, a professora mandou o menino esvaziar a boca. Foi ao banheiro. Saiu verificando os corredores e pátio da escola. Estava limpo. Atravessou, sob sol agonizante, a quadra de esportes, vazia àquela hora da manhã. Adiante encontrou a "floresta", como chamavam os alunos. Era uma pequena reserva de árvores caatingueiras, preservadas no espaço onde construíram a escola. Chegou no local que lhe era familiar, retirou as folhas do galho de um arbusto e estendeu o chiclete no pequeno galho pelado. Era o "visgo", armadilha fatal para passarinho. Assoviou imitando um pássaro e partiu em correria, a professora já devia sentir sua falta.
.
.
-- Onde você foi, perguntou Luísa.
-- Fazer uma visita.
Campainha de saída bateu. Ansioso e preocupado em ser visto, retornou à "floresta". Mas estava sendo seguido. A armadilha deu certo, capturou não só um, mas um casal de canários. Nervoso de emoção, sentiu suas mãos gigantes ao prender um dos pássaros. Abriu cuidadosamente um bolso na mochila e já ia metendo o canário quando um estouro o assustou. Olhou para trás e viu Luísa, mascando chiclete, assistia toda a operação.
-- Tá vendo, o canário fugiu!, reclamou o menino.
-- Melhor soltar o outro, fui intimada à diretoria pedagógica por causa da tarefa, aproveito para lhe denunciar.
Sem falar nada, Carlinhos libertou o outro canário. Colocou a mochila nas costas e saiu na frente, não queria conversa. Atrás dele, Luísa gritou:
-- Carlos, tava certo em não querer mais chiclete!
.
.
f wilson

domingo, 25 de outubro de 2009

Conto para criança

(Foto: "canários" - Flickr do Yahoo)

Os cabelos de Clarice
.
Clarice saiu do útero da mãe de cabelos longos. uma bebê cabeluda. A enfermeira cortou o excesso para que o corpinho rosado não fosse emaranhado.
.

Era um cabelo louro. O mês de junho soprava o vento nos cabelos da menina e fios dourados voavam pelas ruas por onde ela corria. A pianista Aderalda, sua vizinha, recolhia os preciosos fios para marcar colunas de acordes nas páginas das partituras que ela trabalhava diariamente, numa sala onde um piano de dimensões colossais era o mais dramático oratório de uma devotada pianista da catedral Bach.
.
Quando a velha pianista morreu, Clarice já tinha sete anos de idade. A casa e o piano ficaram abandonados na casa vizinha e ninguém ainda tinha se apresentado para reclamar o imóvel. A velha Aderalda terminara "moça-velha". Seu último - e parece que único na vida - companheiro, um maestro talentoso, cometera adultério com uma jovem pianista e fora assassinado pela esposa. Mas isso já se passara mais de quarenta anos.
.
Quando Aderalda morreu, os cabelos de Clarice começaram a cair. A suave massa sonora que se expressava da vizinha e que alimentava a vida e paixão da menina deixara de existir. Clarice não mais cantava. Tampouco se importava com os fios de cabelos que se espalhavam pelo chão da casa. O vento agora era um canto instrumental monótono, fazia seu trabalho de limpeza: recolhia os fios caídos dos cabelos dela, Clarice.
.
Na escola, passou a ser chamada de "menina carequinha". A mãe lhe comprou uma dúzia de bonés.
-- Seu cabelo vai voltar, Clarice, de fazer trança, como Rapunzel, dizia a mãe.
-- Quando, mamãe?
-- Quando você voltar a cantar.
Ela aninhava a menina nos braços e, com lágrimas, pedia a Deus que devolvesse os cabelos e a voz de Clarisse.
.
Numa manhã de domingo, era junho, Clarice acordou com uma música vinda de um pé de caju, no seu quintal. Vinha de um ninho de passarinhos. A música instrumental, a feliz sonoridade de faculdade universal de "dizer tudo, embora sem palavras".
Um passarinho ia e vinha, era o macho terminando de construir o ninho - com fios de cabelos, loiros. Clarice sentiu que o idioma musical minado em sua garganta explodia, podia acompanhar o canto dos pássaros, um estímulo que a liberou num impulso de arte, filosofia, religião...
.
Esperou o passarinho retornar de sua viagem, constante naqueles dias, da casa desabitada da pianista. Era um canário amarelo, formoso, parecia uma guitarra Fender. Algum tempo depois ele pousou na janela do teatro. Clarice dormia. Depositou fios de cabelos junto ao rosto dela no travesseiro e assoviou uma cantata de Bach. Depois abriu as asas de Deus, com suas penas amarelas, e massageou a carequinha de Clarice.
.
F Wilson

sábado, 17 de outubro de 2009

Repost


Fruta
.
Como é doce a palavra
Nos teus lábios de açucena
Pele macia na minha alma
Olhar de esperança acena
.
Teu sorriso de criança salta
Do rosto feito gente inocente
Que pisa no coração dos conflitos
E voa na contramão do infinito
.
Como a lua de todo dia
Teu rosto é a mesma poesia
Como a lua em toda fase
Teu rosto em sedução disfarça
.
Fruta madura na casa
Faz poesia nua embriagada
Vinho sangrando tu'alma
Lábios suando rasgados
.
F Wilson

Conto de M. de Moura Filho no "Confraria Tarântula"

(foto na net, sem crédito)

A ENCOMENDA
Por M. de Moura Filho

"Atirador, quando compra vingança alheia
Tem que ter veneno na veia
Tem que saber andar num chão de navalha
Atirador tarda mas não falha"
.
Atirador, por Lula Queiroga
.
Sentado em frente ao homem de branco, viu a mão pálida aproximar-se, arrastando-se no tampo da mesa, pressionando uma foto. Afastou-se rápida, e sumiu por instantes. Uma gaveta abriu-se. A mão pálida voltou segurando um envelope. E ouviu o homem dizer "mate o canalha, e apenas o canalha." Pegou a foto, e mirou-a, mentalizando o rosto do homem morto; sim, já morto. A menos que o envelope não contivesse o valor do contrato. Virou a foto, os endereço impressos: o do trabalho e o de casa. Largou a foto. No envelope, o dinheiro acertado. Não disse palavra. Apenas se levantou e encaminhou-se para a saída. Ouviu ainda o homem de branco dizer que queria no jornal a notícia da morte do canalha. E pensou: "tá lá, doutor."
.
* * *
.
Seus olhos miravam o cano da arma voltado para si. Antes recebera uma coronhada entre os olhos, que lhe deixou aturdido, com o corpo atirado ao chão. Tonto, tentou levantar. Não conseguiu se pôr de pé. Mas ajoelhou-se. E seus olhos miravam o cano da arma voltado para si. Olhou para o lado e viu G., inerte. Tentou extrair de seu olhar a traição que sempre esperou. Mas nada lhe foi revelado. Ela estava, definitivamente, aflita. Ou era boa atriz. Voltou-se para o cano da arma. Segurando a arma, um estranho. Corpanzil, musculoso, olhar fixo em si. Mirou no dedo a afagar o gatilho. Voltou-se para o cano da arma. Não lhe parecia que tremia. Mas sentiu líquido a queimar-lhe as coxas, molhando suas calças. O homem em fração de segundos virou-se para G. e seu olhar dizia-lhe para conter o grito que anunciava, e não cumplicidade entre eles, que lhe justificaria tamanha violência. Quis falar, mas som algum emitiu. Não sabia a razão de ter sido agredido com tanto vigor. Mirou novamente o rosto do homem. Expressão alguma denunciada, a não ser a sua frieza. O certo, a impressão que teve, é que nunca o viu. Seu olhar, mirando o homem com a arma, buscava uma explicação. Mas o homem mostrava-se indiferente. Ouviu G. balbuciando "por favor, não faça isto. Pegue o que quiser, mas não faça isto." O homem voltou-se para G. Pareceu-lhe ainda ausente qualquer cumplicidade. O homem estava disposto apenas a fundar o terror: afinal, em nenhum momento mencionou os dólares, ou as jóias, ou o Audi estacionado. Em verdade, não mencionara nada. Disse ao homem que não tocasse em G. O homem aquiesceu, encolhendo os ombros. Agradeceu-lhe. Sabia que G. não seria tocada. Na firmeza do homem em agredir-lhe, sentiu que poderia nele confiar. Ouviu o estampido e sentiu queimar a fronte.
.
* * *
.
Surpreendeu-se ao abrir a porta, projetando-se contra a parede. Um homem invadiu o seu apartamento, com uma espingarda na mão. O barulho chamou a atenção de R., que lhe acudiu. Foi, barrado, porém, por uma coronhada entre os olhos. Caído, R. tentou levantar,em vão. Não entendeu nada do que ocorria. R. olhou-a como se procurasse ajuda. Tentou gritar, mas o olhar do homem a impediu. A arma sempre mirada para R. Se tanto, e o que se lembra, disse ao homem que não fizesse mais qualquer violência, que levasse o que quisesse do apartamento. O homem a fitou, e logo entendeu que não era um assaltante. Imaginou, a princípio, que pretendia violentá-la. Mas viu o homem dar de ombros ao pedido de R. de que não a molestasse. Então o pior aconteceu-lhe: o tiro. O rosto de R. desfigurou em pólvora e sangue. Em seguida, o corpo abruptamente desmoronou sobre o piso enxadrezado, como se abatido uma peça qualquer. Sentia o cheiro da pólvora ainda quando se debruçou sobre o corpo. O sangue tingia sua blusa branca. Entre dedos, ao segurar a cabeça sem vida, miolos. Berrou o nome do morto, entre soluços, entremeando com palavras ininteligíveis. Voltou-se, sem muito se afastar do corpo, para pedir socorro, mas apenas viu as pernas do assassino sumir pela porta. Gritou por ajuda. Nem os passos do assassino mais eram ouvidos. Estava só, com o corpo. Estava sozinha. Correu ao telefone ligou para 198. Depois, sentada no chão, pernas dobradas, abraçadas, ficou a mirar o corpo, e se imaginou sozinha para sempre. A noite chegava com o seu luto.
.
* * *
.
Sucumbiu o desgraçado com uma coronhada, ao vir socorrer a cunhã, que afastara de sua frente. "O que foi, G.?", pronunciou-se o desgraçado. Seus passos interrompidos com a coronhada, que o projetou para trás, até que colou a bunda no chão. Tentou levantar, mas o cano da escopeta o impediu. Virou-se para lado, para onde estava a cunhã. Voltou-se para o filho da puta, que olhou para cunhã como se buscasse auxílio. Seu olhar cortou o grito da cunhã. Ela ainda balbuciou que não fizesse aquilo, que levasse o que quisesse. Olhou-a como se dissesse que apenas queria a vida do filho da puta. Virou-se novamente para filho da puta, que, trêmulo, pedira que não fodesse a cunha. Apertou o gatilho, atingindo em cheio o filho da puta, que foi projetado para trás. Virou-se e dirigiu-se à porta pensando que seria bom foder aquela piranha. Mas não seria ela que o faria descumprir um contrato.
.
Extraído do blog Confraria Tarântula

domingo, 11 de outubro de 2009

MPB INSTRUMENTAL


Toquinho - Especial Instrumental (1987)LupSom
.
01 - Amor em paz (Toquinho - Vinicius de Moraes - Azeitona)
02 - Marina (Dorival Caymmi)
03 - Asa branca (Luiz Gonzaga - Humberto Teixeira)
04 - Garota de Ipanema (Tom Jobim - Vinicius de Moraes)
05 - Ai, quem me dera (Vinicius de Moraes)
06 - Bachianinha nº 1 (Paulinho Nogueira)
07 - Samba de Orly (Toquinho - Chico Buarque - Vinicius de Moraes)
08 - O vento (Dorival Caymmi)
09 - Berimbau (Vinicius de Moraes - Baden Powell)
10 - Chuva na praia de Juqui (Toquinho)
11 - Meu panamá (Mutinho)
12 - Chorando pra Pixinguinha (Vinicius de Moraes - Toquinho)
.
Special Participation:
Azeitona (4)
Mutinho (11)
.
Download: http://rapidshare.com/files/288794428/Toquinho_-1987-_Especial_Instrumental__320_.zip
.
Fonte: Abracadabra-LPs do Brasil
.
.
.

Baden Powell - O Grande Show Gravado ao Vivo (1979)
WEA-Atlantic BR 20.050/
.
Disc 1
.
01 - Canto de Ossanha (Baden Powell-Vinicius de Moraes)
02 - Samba novo (Baden Powell)
03 - Refém da solidão (Baden Powell-Paulo César Pinheiro)
04 - Petit valsa (Baden Powell)
05 - Tempo feliz (Baden Powell-Vinicius de Moraes)
06 - Se todosfossem iguais a você (Tom Jobim-Vinicius de Moraes)
07 - Asa branca (Luis Gonzaga-Humberto Teixeira)
08 - Eurídice (Vinicius de Moraes)
.
Disc 2
.
01 - Samba da bênção (Baden Powell-Vinicius de Moraes)
02 - A lenda do Abaeté (Dorival Caymmi)
03 - Valsa número um (Baden Powell)
04 - Tributo a Juazeiro (Baden Powell)
05 - Berimbau (Baden Powell-Vinicius de Moraes)
.
Baden Powell - voice, acoustc guitar
Lilian Carmona - drums
Saulo Bezerra de Melo - contrabass
Don Bira - percussion
Jorginho Cebion - percussion
Record live at Teatro Procópio Ferreira - São Paulo (08-1979), "Encontro com Baden Powell"
.
Download.
.
Fonte: Abracadabra-LPs do Brasil 2

sábado, 10 de outubro de 2009

A longa tarde do vento quente

(foto sem crédito)


A longa tarde do vento quente

Outubro. A parada de ônibus mais quente do que a faixa no meio do asfalto, onde carros iam e vinham não sei de onde nem pra onde naquele colosso de calor. Qualquer sensatez humana ficaria em casa a aceitar o desafio de uma condução "circular" de ônibus à universidade, ufpi, onde eu cursava letras.
.
Lembro que cheguei na sala de aula, não havia nenhum aluno ainda, nem professor. Cruzei os braços sobre a carteira, aninhei a cabeça neles e logo dormi.
.
Lembro também da minha longa viagem com o sol. Primeiro eu entrei no ônibus. O motorista era velho, tinha olhos amarelos e brilhavem. Nunca vi olho de velho brilhar. O cobrador dormia no alto do caixa. Meti um vale estudantil no buraco do ouvido dele e empurrei a catraca numa engrenagem barulhenta que só fez esquentar mais ainda o calor. Quando levantei os olhos vi todas as cadeiras vazias. Sentei-me numa cadeira onde eu sabia que os solavancos jogaria o sol para o outro lado. Deu tempo de brir o livro do Chandler, no conto: "A longa noite do vento quente". O calor, o sono, a fadiga deviam de ter derrubado o livro longe. Entre o sono e o calor ouvi uma voz feminina, ao meu lado.

-- Tarde quente!
-- É, muito quente...
O vento quente, a sede, o sono, a janela pequena para se atirar ao suicídio no asfalto.
.
O motorista solavancando marchas e mais marchas, acelerando fumaça, peidando ar-comprimido em cada parada que ninguém entrava, o sono, o calor insuportável.
-- Mas tá muito quente, não tá, não? Perguntava ela.
-- Insuportável, o calor.
.
Na curva da Maranhão para a Av. Atonino Freire caí nos ombros dela e fechei os olhos, senti o vapor do desodorante que lubrificava o sovaco dela e me veio o sono mais pesado ainda. Quando a arquitetura de uma nuvem sombreou a cidade, parecia tudo ter se ressussitado. Eu apenas me arqueei, mecânicamente, de volta ao meu posto, alinhando-me na cadeira. Naquelas alturas sonolentas, acho que meu nariz beirava as coxas da moça que perguntou:
-- Calor horrível, não?
-- Muito calor danado, falei, idiotamente.
.
Foi quando ela puxou o cordão ao alto pedindo parada. Deu para ver que era a parada do CCHL, da UFPI. Vi, com muita dificuldade, quando ela ajeitou a saia, arrumou os livros e se levantou. Eu com alguma consciência sabia que deveria descer nos blocos antigos da universidade.
-- Tarde quente, enhein...?
-- Muito quente, respondeu o besta.
.
Há na via que dá acesso aos blocos antigos da universidade um balão fechadíssimo que carro só curva com vinte ou trinta quilômetros. O motorista do olho amarelo girou a direção como oitenta e eu caí lá onde o sol se sorria.
.
Quando acordei, na sala de aula, o professor de português, Airton Sampaio, falava sobre a importância da comunicação, do canal da comunicação. "Alô?" - "Alô!".
E o professor, com exercício da prática literária, como exemplo, contava:
"Um sujeito idiota sentou na cadeira de um ônibus e uma garota belíssima sentou perto dele e falou só para testar o canal da comunicação:
-- Pôxa, como tá calor, não tá não?
--Tá um calor dos diabos!"
.
Mais tarde, no antigo bar "Nós e Elis", eu bebia uma cerveja no balcão quando uma garota se aproximou. Não a vi, mas o cheiro era feminino, meu nariz não mente. A voz que pediu campari, a voz rouca de substância musical, me acendeu um sol de tantos que queimaram minha orelha nas janelinhas de ônibus de Teresina. Olhei para ela, estava com sorriso provocador, mas também de impossível. Reconheci o cabelo louro que o vento de outubro soprou dentro de um dia num dos malditos ônibus nas ruas de Teresina.
-- Dia quente, disse ela.
-- Muito quente, falei, otariamente.
Com gotinhas de suor sobre a ponta do nariz ela se desprezou de mim, no mais perdido aceno de adeus. Não seria um aceno de calor?
.
f wilson

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Chet Baker "Chet" (1958)

Chet Baker "Chet" (1958)

Pessoal:
.
Chet Baker: Trompeta
Pepper Adams: Saxo Barítono
Herbie Mann: Flauta Traversa
Kenny Burrell: Guitarra
Bill Evans: Piano
Paul Chambers: Contrabaixo
Philly Joe Jones: Bateria
Connie Kay: Bateria.
.
Download: http://rapidshare.com/files/199973003/CBC.rar
.
Fonte: MP3 JAZZ ( http://buenojazz.blogspot.com/ )

sábado, 3 de outubro de 2009

Novo conto no blog Tarântulas

(fotos sem crédito. montagem de f wilson)

Por J. L. Rocha do Nascimento
.
Vim assim que soube. Amigo de infância. Logo que cheguei, aquele constrangimento.
Aproximei-me para vê-lo mais de perto. Fui interrompido por um acesso de tosse.
Não conseguia parar. Meus olhos lacrimejavam, faltou-me o fôlego. Passada a crise,
percebi que as velhas senhoras tinham parado de rezar o terço. À minha volta, todos me olhavam fixamente, com ar de censura ou de advertência. Ou era de comiseração? Não esperei a resposta. Sai dali imediatamente. De fininho e envergonhado. E adivinha o que estou fazendo agora, aqui do lado de fora que está mais ventilado e de onde a muito custo posso identificar a quantas trezenas vão de ave-marias? Prometeu parar. Eu também, diversas vezes. O máximo que consegui, numa delas, três meses. Por esse tempo eu ficava, como se costuma dizer, fumando nas calças. Carcinoma bronco-pulmonar. Quando soube, para melhorar a estima, ainda quis fumar um, o infeliz. Na manhã de hoje, quando acordou, contou-me sua mulher, estranhamente não sofreu. Olhou pro firmamento e fez um comentário. Nesse momento algumas nuvens tingiam de negro o azul do céu. Preferia não saber, foram suas últimas palavras.
.
Foi por causa dele que comecei, ainda no ginasial. Por pouco não me livrei. Tinha dificuldade, engolia muita fumaça. Ele insistiu e o fez com um argumento infalível. Ajuda a conquistar uma garota. Quando a gente está sem assunto. Serve pra quebrar o gelo, distrair. Enquanto traga, vai pensando no que falar.
.
Mas minha paixão inicial foi mesmo pelas embalagens. Quando criança, lá pelos oito ou dez, tinha um vizinho que gostava de Minister. Feito para o homem que sabe o que quer. Certa vez ele me deu um maço vazio. Comecei minha coleção. A gente transformava em notas. Isso depois de um cuidadoso trabalho. O jogo era desfazer a embalagem sem rasgar ou danificar. Primeiro descolava. Depois dobrava as laterais em direção à parte interna, mais ao menos na largura do dedo mindinho. Em seguida, com o polegar, e a mesma paciência de mãe ao passar a camisa de cambraia de pai, pressionava em ambos os lados para vincar bem. Ao final, dobrava ao meio, como se faz com as cédulas. Na bolsa de apostas entre os meninos da rua, Minister valia mais que Hollywood, cinco vezes uma Continental com filtro. A de menor valor era a do Gaivota. Índice de rejeição altíssimo, porque era o mais barato àquela época e não tinha filtro. A mais rara e valiosa era a carteira de Cônsul, mentolado e meio doce, um pouco enjoativo. Tinha uma vantagem. Bom para namorar, falar de perto, diziam os acima de meu tope. E era mesmo. Antes de conhecer, quando eu queria beijar, depois de umas tragadas, eu sempre chupava bombons piper. Com o Cônsul não havia com que se preocupar, podia beijar sem medo.
.
Saudades daquele tempo, quando tudo era muito inocente e romântico. Assim como no cinema. Filme em preto em branco tinha que ter fumaça. Sem um entre os dedos nunca haveria uma mulher como Gilda. E nem como Rita. E aquele olhar oblíquo, impetuoso, de femme fatale da Lauren Bacall pro Bogart? O instante entre o riscar e o acender. Impagável. Nunca esqueci.
.
Os tempos são outros. Não existe mais aquele glamour. A cada dia o cerco se fecha ainda mais. Pra onde você se vira tem uma placa de espaço livre. Tem dias que eu me sinto como um cão vira-lata, ninguém quer por perto. Acho que ele também se sentia assim. Pertencemos a uma raça em extinção. Eu e o cinzeiro. Outro dia, numa festinha, rodei a casa toda à procura de um. Não encontrei. Tive que me virar com um copo descartável.
.
Quanto à tosse? Está sob controle. Não sou do tipo que é facilmente surpreendido. Não dou moleza pro azar. Faço visitas regulares aos médicos. Já a investigaram. Enfisema intersticial, uma bobagem. É certo – e esse detalhe eu omiti – que às vezes vem acompanhada de alguns coágulos avermelhados. Minha mulher diz que são de sangue. Eu digo que são margaridas que meu organismo não consegue digerir e são expulsas. É a palavra dela contra a minha. E enquanto isso, pra organizar as idéias, vou fumando. Enquanto ainda é permitido fazê-lo em alto-mar.
.
Extraído do Blog Tarântulas

Keith Jarrett - Whisper not (live in Paris 1999)

Keith Jarret - Whisper not (live in Paris 1999)
.
Disc 1
.
1. Bouncing With Bud 7:31
2. Whisper Not 8:04
3. Groovin’ High 8:29
4. Chelsea Bridge 9:46
5. Wrap Your Troubles In Dreams 5:46
6. ‘Round Midnight 6:43
7. Sandu 7:26
.
DOWNLOAD CD1:http://rapidshare.com/files/166894371/PQP_Jarrett_Trio_Whisper_Not_1.rar
.
Disc 2
.
1. What Is This Thing Called Love? 12:22
2. Conception 8:07
3. Prelude To A Kiss 8:14
4. Hallucinations 6:34
5. All My Tomorrows 6:22
6. Poinciana 9:09
7. When I Fall In Love 8:06
.
DOWNLOAD CD2:http://rapidshare.com/files/166912585/PQP_Jarrett_Trio_Whisper_Not_2.rar
.
Keith Jarrett, piano
Gary Peacock, baixo acústico
Jack DeJohnette, bateria e percussão

Fonte: P.Q.P. Bach (http://pqpbach.opensadorselvagem.org/)

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Shostakovich - Chailly - The Jazz Album

.
Dmitri Shostakovich (1906-1975)
.
Jazz Suite No. 1Op Piano Concerto No. 1 in C minor,. 36
Jazz Suite No. 2 (Suite para Orquestra Promenade)
Tahiti Trot (Tea for Two)
.
Ronald Brautigam, Piano
Peter Massagistas, Trompete
Royal Concertgebouw Orchestra
Riccardo Chailly, Maestro
.
Download:
.
.

domingo, 27 de setembro de 2009

Matemática


(sem crédito: desenho retirado da net)

PROVA DE MATEMÁTICA
.
Quando abri os olhos da manhã milhares de números pulavam e gritavam na minha cama. Gritei por minha mãe mas ela não escutou. Também, eu sabia por que: nas manhãs saudosistas ela metia o MP4 nos ouvidos e escutava aqueles rocks antigos, e eu sabia que o preferido dela era a guitarra do Chuck Berry ,"It Don’t Take But a Few Minutes": "one, two, tree,four, five, six ...".
.
– MÃÃÃÃÃEEEEEE!!!!!!!!!!!!
.
"Seven, eight, nine, ten...".
.
Passei a rasteira básica do Bruce Lee (eu aprendia Kung Fu) em toda a base do meu colchão lá se foram os malditos números. Não é que subitamente voltaram para a hospedagem: minha mente.
Era o jeito levantar. Você deve tá perguntando por que tou falando de números: é que nesse dia ia haver prova de matemática! Né não? Qualquer um fica estressado com prova de matemática no dia seguinte!
.
Twist do Chuck Berry no café-com-leite-bolinhos-de-queijo. Mamãe é deusa. Mas não adiantava gritar mamãe, também eu já sabia me defender de tantas matéria que não fosse a matemática, por exemplo, português, duvido que o verbo ferir me fira - falar em verbo, coitada da mamãe quando dizia, se dizia, eu pairo... ai, ai...
.
Pulei da cama e corri direto pro banheiro, nu, minha pinta carregava o nº 1 na horizontal. Liguei o chuveiro e lá vem chuva de números frios. Mijar o quente do 10,0 ou 9,0 na prova , tudo bem. Ainda bem que não veio a vontade do fazer cocô, era zero na certa, mamãe sentiria o fedor.
.
Saí do banheiro direto para o vestir do uniforme da escola. Ainda bem que minha pinta havia murchado. Aí dei uma sacudidela no corpo para expulsar gotículas insistentes, como cachorro faz depois do banho. Foi número pra todo lado. Alguns rolaram porta afora e rolaram até a cozinha, aos pés da mamãe. Foi quando ela recolheu alguns e vi quando ela colocou no café, como se fosse açúcar, e mexeu, mexeu, mexeu no bule até a colher chegar à sua língua, acho, no ponto ideal.
.
À mesa ela explicou que o dono da matemática era um sujeito que tinha uma bomba na cabeça, mas que nenhum menino ou menina não precisava ter medo não, era uma bomba que explodiria inteligência pra todo lado!
.
Após a prova.
.
– E aí, filhinho, como foi a prova de matemática?
– Ih, mãe, explodiu pedaços de prova pra todo lado. Poeira de todo número. Terrorismo total. Restaram escombros.
– Escombros?
– De burrice!
– Acho que você anda lendo poesia demais.
.
F. Wilson

sábado, 19 de setembro de 2009

Poesia na veia


(fotos retiradas do blog textura)

Valéria Tarelho é uma poetisa que admiro.

Conheci-a na internet nem sei como. Casualmente acessei o blog "textura" e vai que leio suas poesias, e como se de longe enxergasse a alma, e logo depois quisesse ouvir sua fala, como antigamente se fazia, domei meus instintos e equilibrei a vejetação da loucura - que me cresce em pêlos pelo corpo.

Valéria é uma perpétua adolescente, entrega-se a força irracional da poesia para criar vida a quem tem de verdade e a quem tem artificialmente.

Ela é loira, de forma clássica e pertence à sua essência: poesia raça pura.


sapeando

.

sapo espuma, espuma

se ensaboa

toma banho na lagoa

em dia quente

cantarolando contente

coaxo, coaxo

.

sapo pula, pula

dançando livremente

o brejo canta em coro

coaxando alegremente

coaxo, coaxo

.

sapo infla, infla

incha o papo

espicha a lingua e fisga o almoço

não mexeu nem o pescoço

coaxo, Coaxo

.

sapo

coaxa, coaxa

infla, infla

pula, pula

espuma, espuma

e sapeia

.

sapo não faz cara feia!

(Valéria Tarelho)

Poesia extraída do blog Textura.

Tucky Buzzard




Sempre antes de dormir deixo o computador ocupado, baixando algum disco ou filme raros, antigos, etc., que não encontro nas lojas. Aí na manhã seguinte abro o programa WinRAR e escuto o humanamente esquecido.
.
Hoje, esse sábado 19, sem rima e meio sem graça, foi estimulado pelo impulso do hard rock, estilo musical que dá a substância necessária aos meus ouvidos no dia-a-dia. Mas eu quero escrever sobre esse grupo de rock de 1971: Tucky Buzzard. Não sei até onde seu nome e música fizeram concessões à crítica da época, tampouco o caminho percorrido para domar o sucesso almejado.
.
Na primeira música, "Time Will Be Your Doctor" , guitarras pesadas; "Sky Balloon" (cd 2) teclados inquietantes dão idéia de instintos desordenados. O batera chuta o mundo a seus pés. letra é outra história.
.
A letra, às vezes, se encarna na música como se poesia fosse alma da música ou vice-versa. Mas uma não depende da outra. Beethoven não colocou uma sílaba na sua música, assim como Drummond não disciplinou seus versos às notas musicais.
.
O disco do Tucky Buzzard é ótimo. Confiram baixando pelo link abaixo (emprestado do blog Masterpiece - ex-acorde final).
.
"Time Will Be Your Doctor" - 1971
.
CD 1 - http://www.megaupload.com/?d=9B67D6QG
CD 2 - http://www.megaupload.com/?d=L7YCE7M9

domingo, 13 de setembro de 2009


Shuggie Otis é um guitarrista que escutei há uns dois anos depois que li comentário de críticos de música que acompanho vez em quando, brasileiros, americanos e outros traduzidos.

A crítica é importante, mas o que eu levo em conta mesmo é a minha experiência pessoal, e de música eu acho que já deu para entender um pouco. Com toda a certeza, o amigo Leonam é o ouvido mais afinado em todos os estilos musicais. O chato é que ele escuta, está sempre ouvindo algo de novo, e não faz o comentário necessário do que tá ouvindo, nem em blog, nem a gente falando, nem caçando.

Mas tudo bem. Taí um guitarrista dos anos 70, de todos os tempos, de todas as notas musicais. O estilo predominante é, para variar, eu ia dizer BLUES, mas a influência maior é o JAZZ!!

Confiram baixando gratuitamente pelo link emprestado:

http://www.megaupload.com/?d=4ANIGS8P

Fonte do link: http://www.masterpiece.blogspot.com/

Keith Jarrett


Interlúdio - Keith Jarrett Trio - At the Blue Note - CD 3

1 Autumn Leaves

2 Days Of Wine And Roses

3 Bop-Be

4 You Don’t Know What Love IsMuezzin

5 When I Fall In Love

Keith Jarrett - PianoGary Peacock - Double BassJack DeJohnette - Drums

Download:

http://rapidshare.com/files/271496003/Keith.Jarrett.Trio.-.At.The.Blue.Note.CD3.rar

Fonte: P.Q.P. Bach

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Poesia invadindo "Tarântulas"

(foto sem crédito)

J. L. Rocha Nascimento

BORGES

penetrei intricados labirintos
cruzei infinitas câmaras
e antes que minhas retinas mourejassem
fiz concessõesde que me envergonhei
depois
e
não me perdi

na saída
vi um jardim de tulipas negras
um rio circular
em cujas águas purifiquei o corpo
quando emergi e me pus em terra firme
desfiz-me em grãos de areia
tornei-me infinitesimal
ainda assim
senti frio

fui varrido pelo tempo
busquei abrigo
numa das mil e uma noites
[imaginei que ali encontraria o sentido de tudo]
aqueci-me
mas aí veio a febre
numa delas
sonhei
que dormia como um justo
nos braços de Sherazade

toquei com o dedo a lâmina do espelho
vi vários de mim
multiplicados
sem fim
como naquele jogo que inventastes
sonhos tigres punhais

hoje são teus olhos
[Deus irônico!
engolidos pelo breu da noite]
guias opacos
que me arrastam
como a tua sombra
pelos corredores da biblioteca hexagonal

eu li [tu dissestes]
não há nada que é
ou que será
que [eu] já não tenha sido

agora sei do outro
[que é] o mesmo
ser Borges
duplo de si mesmo

eu sei você vai saber


Conferir em www.confrariatarantula.blogspot.com

sábado, 29 de agosto de 2009

Conto de J. L. Rocha Nascimento

(foto-montagem através de imagens de blog da web: f.wilson)
.
MR. MARLBORO II - A RECAÍDA

.

Vou renascer dessas cinzas, murmurou, pensando em Fênix.Antes vou dar mais uma tragada, disse resoluto, fazendo pouco caso do mar de cinzas à sua volta. Não é que se arrependera. Mas tava se lixando. Afinal, tudo não passava de uma comédia. Se é que faz tanto mal assim porque não proíbem logo a venda?
.
Mas como? Tentou se levantar, não conseguiu. Estava reduzido à cabeça, tórax e membros superiores, que estavam necrosados. Olhou-se no espelho. Não conseguia ver nada além daquilo a que ficara reduzido. Não havia mesmo como se reacender, já que não passava de um tronco.
.
Só havia uma saída. Torcer para que soprasse um vento forte. Com a ajuda, se impulsionaria até rolar pela sarjeta abaixo. Dali para a praça onde os mendigos costumam lutar contra o frio seria questão de minutos. Quem sabe um deles não se apiedasse. Mas havia um risco. Antes de chegar ao destino final, poderia ser esmagado por um sapato de um transeunte apressado ou de um antitabagista radical.
.
Quando veio o vento da madrugada, resolveu arriscar. E rolou até alcançar a porta da rua. Com mais alguns impulsos e o vento favorável, escorregou pelas valas, desceu ruas, subiu calçadas, desviou-se de um ciclista maluco, chegou enfim à praça e estacionou aos pés de um banco. Agora era aguardar o momento certo.
.
Perto dali, um velho mendigo, carregando às costas o apurado do dia, lentamente, se dirigia à praça e fazia figa para que sua cama não estivesse ocupada por nenhum concorrente. Acabara de tomar, por caridade do gerente, um cafezinho no bar da esquina. Pena que, freqüentado somente por não fumantes, nem deu pra descolar um cigarrinho, um toco que fosse.
.
Uma bagana era o que lhe faltava para fechar a noite, além de ajudar a enfrentar o frio.
.
Por isso mesmo quase não acreditou quando ao chegar à praça percebeu que encostado aos pés do velho banco havia uma ponta. Quando percebeu que não se tratava de uma miragem, abriu um sorriso e friccionou as mãos, ansioso.
.
Com muito esforço, agachou-se e apanhou-o com uma das mãos. Ainda está morno, vibrou. Foi apagado recentemente e esse é dos bons, é de doutor.
.
Segundos depois, ele tentava se equilibrar entre os lábios murchos e trêmulos do mendigo.
.
No início, quase que pulou fora. Mas quando o mendigo o reacendeu e seus pulmões foram invadidos pela primeira nuvem de fumaça, ele meio que esqueceu o hálito insuportável do velho.
.
Extraído do blog confraria tarântula

Três poemas de Moura Filho

(não encontrei o autor da ilustração acima)

A TRAVA


Chegou a maldita, chegou a malvada!
Chegou com “fome” e com “sede” também.
O que fazer? só tenho um terço, amém.

A carniça bate na janela do quarto,
depois voltará, foi arrecadar mais gente
para povoação de lá; quando voltar, à porta entrará.

O tempo passa o tempo não é mais amigo.
Tenho medo. Será que o mundo de lá
é pior que o de cá?

Tive muito tempo para me preparar,
agora não é hora de reclamar.

Estou de pijama no quarto. Pego as malas,
mas para que? sei que não vou precisar!

Tenho o terço para rezar, porém a fé é pouca
e essa pouca fé me abandonou.

Espero que ela tenha muitos para levar.

Não tem jeito, está traçado.
É como se a trava que está no meu olho,
estivesse no olho do outro também.

Amém


FEIJÃO NA PANELA?

Pau medra mais que pão.
Pão sonho em vão.
Mão, prego e cruz.
Café, farinha menos cuscuz.
Pão e pau, quem vence?
- o mal.

DAS LUZES À ESCURIDÃO,
SÓ SOBROU UM RESTO DE PÓ.

Depois do homem, sobrou para os vaga-lumes;
para as baratas; vermes e CIA.
Na escuridão, na quentura do caixão,
nem o esqueleto sobrou.
A carne era fraca e a arrogância muito.
Sobrou só um resto de pó, que ao pó retornou.
Dia de pó, para o arrogante, que vivia só de aparências e paletó.

Moura Filho é um poeta de Teresina. Trabalha com contabilidade (como Fernando Pessoa) e teima em fazer poesia. Conheci-o ha poucos dias quando a Mazé (minha mulher) me apresentou alguns dos seus textos. Depois ele me mandou outros poemas via email e fui lendo mais devagarinho seus insistentes trabalhos. Moura Filho gosta de poesia , não faz poesia de graça. Na parada onde há o ponto da arte, ele espera e acena com a mão o ônibus que anda circulando a vida em preto-e-branco ou em cores.

36º Salão Internacional do Humor de Piracicaba (SP) - Álbum de Fotos - UOL Entretenimento

(Acacio)

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

40 Anos do Woodstock














Fotos extraídas do blog woodstock