domingo, 29 de janeiro de 2012

Conto@otnoC

( Cartoon: Valdez )

O Político  [Por J.L. Rocha do Nascimento]


O POLÍTICO Perfeitamente limpo, o político subiu (seguro e sorridente) ao palanque acompanhado de sua comitiva de honra, alguns sorrisos, abraços, confidências auriculares e felicitações. A banda de música há muito já se postara, ora atenta ora sonolenta, num cantinho, à espera da senha para animar o circo. 

O político acenou com um gesto bastante conhecido (e cultivado) para a multidão que compareceu em peso na praça pública. Ajeitou o nó da gravata. Um conselheiro recomendou-lhe algo, outro ajustou a altura do microfone. Ele tossiu à maneira tradicional de início dos discursos. Uma ilustre personalidade achou que o sorriso do político não condizia com a ocasião. Sugeriu a utilização de um outro, mais plástico e envolvente. Ele ensaiou rapidamente alguns do repertório e quando optou por um que tirou de dentro do balaio, recebeu como aprovação um tapinha nas costas. Alguém perguntou sobre o efeito do desodorante, ele levantou o polegar direito. 

Tudo pronto. Começou a falar. A platéia se posicionou atenta, pacientemente. Sua voz vibrou forte e impunemente pela amplificadora. Visivelmente emocionado, prometeu melhorias. Por fim, acabou prometendo (a longo prazo) doar sua alma, os cabelos do cu e até vender a própria sogra. O povo aplaudiu leal e confiante, como sempre fora, ciente de que ele era o homem certo. Não se conteve e quis quebrar o protocolo, mas seus assessores o detiveram dizendo que seria mais vantajoso resguardar-se em suas energias para ocasiões mais futurosas. 

Foguetes rasgaram o ar. Comida e bebida foram servidas com fartura. Homens honrados e devidamente polidos, antes nunca vistos numa multidão, circulavam distribuindo sorrisos e receitas de bolo. O comício ocorria dentro do esperado. Elogios e apoios recíprocos. Promessas, muitas promessas. Um sucesso. O povo de barriga cheia, e maravilhado com aquela retórica, dava vivas, mostra de que ele mexera com os ânimos. O político, rica oratória, exibiu mais um sorriso e com ele toda a brancura de seus dentes. O indicador rijo ferindo o ar não deixava dúvida. Era o cara. 

Durante horas seguidas o povo ouviu-o com uma calma e serenidade surpreendentes. E quando o político preparou-se para, mais uma vez, apregoar uma receita de garantia de renda mínima para a população, esse mesmo povo, numa decisão e lucidez sem precedentes, subiu ao palanque, envolveu-lhe de chofre, e tirou-lhe (sem a menor piedade) aquilo que tinha de mais sórdido e hipócrita: a vida.


* Conto extraído do blog Confraria Tarântula.


Martha Argerich - Schumann: Piano Concerto - Gewandhausorchester Leipzig...

sábado, 28 de janeiro de 2012

Ondas Sonoras



Royal Albert Hall é a maior atração musical da Inglaterra, ou atração turística. 

Os clássicos pintados nesse cd são colossais, viajam pelo Barroco, Romantismo e Classicismo. 

Não parei para escutar essa alternância de estilos sonoros (afinal música não é droga relaxante, suporífico), mas enquanto faço uma tarefa e outra dentro de casa - na cozinha, separando briga das crianças, bebendo uma dose de cachaça - , neste finalzinho de férias, esses vocais e instrumentais vão dobrando e redobrando o espetáculo da vida.

Esse cd está disponível para download no site de um cidadão chileno: Blogger Musical (Classics & Jazz). 

Link para download: http://www.mediafire.com/?57g3bpoedhf5gb9    

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Cartoons

 ( Valentin Druzhinin - Russia )


 (First Prize Mehdi Mohammadi Rouzbahani - Iran)

 ( ? )


 ( Gilmar De Oliveira Fraga - Brazil )


 ( Elman Mirzoyev - Azerbaijan )


(  Valentin Druzhinin - Russia )


( Yuriy Kosobukin - Ukraine )


quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

"O Selvagem da Ópera"


175 anos do nascimento de Antonio Carlos Gomes

Il Guarany é a ópera mais conhecida de Antonio Carlos Gomes e também a mais executada e mais gravada, embora não seja a melhor delas. Isso não significa de forma alguma que ela seja ruim, muito pelo contrário: o sucesso estrondoso que teve na Itália e no Brasil refletem que ali havia um compositor que conseguia trazer algo de novo à fórmula já batida da ópera italiana e que veio dar ares renovados e mais fôlego ao formato.
Em sua ópera seguinte, Fosca, Gomes abusou de inovações e acabou desagradando público e crítica (...)

Antonio Carlos Gomes (Campinas, 1836-Belém, 1896)
Il Guarany (1870) (1870)
Libreto: Antônio Scalvini
Baseado no romance homônimo de José de Alencar

Ato I - 01 Sinfonia
Ato I - 02 Scorre il Cacciator
Ato I - 03 L’idalgo vien + Gentile di cuore’
Ato I - 04 Cecilia, esulta, Reso ai nostro lari + Salve, possente Vergine
Ato I - 05 Che brami + Sento una forza indômita
Ato II - 06 Son giunto in tempo + Vanto io pur superba cuna
Ato II - 07 Ecco la grotta del convegno + Serpe vil
Ato II - 08 Udiste + L’oro è un ente sì Giocondo
Ato II - 09 Ebben, miei fidi + Senza tetto, senza cuna
Ato II - 10 Oh, come è bello in ciel!+ C’era una volta un príncipe
Ato II - 11 Tutto è silenzio + Donna, tu forse l’única
Ato II - 12 Miei fedeli + Vedi quel volto lívido
Ato III - 13 Aspra, crudel, terribil
Ato III - 14 Canto di guerra + Giovinetta, nello sguardo
Ato III - 15 Qual rumore + Or bene, insano
Ato III - 16 Tu, gentil regina + Il passo estremo omai s’appresta
Ato III - 17 Ebben, che fu + Perché di meste lagrime
Ato III - 18 Morte! + O Dio degli Aimorè
Ato III - 19 Che fia + Sorpresi siamo
Ato IV - 20 Né torna ancora + In quest’ora suprema
Ato IV - 21 No, traditori + Gran Dio, che tutto vedi
Ato IV - 22 Padre! + Con te giurai di vivere

Pery - Placido Domingo, tenor
Cecilia - Veronica Villaroel, soprano
Gonzalez - Carlos Alvarez, barítono
Don Antonio de Mariz - Hao Jiang Tian, baixo
Don Alvaro - Marcus Haddock, tenor
Cacique - Boris Martinovic, baixo
Ruy Bento - Graham Sanders, barítono
Alonso - John-Paul Bogart, tenor
Pedro - Pieris Zarmas, baixo

Chor und Extrachor der Oper der Stadt Bonn,
Orchester der Beethovenhalle Bonn
John Neschling, regente
Bonn, 1994

Download: BIS-2012.01.26-Carlos Gomes-Il Guarany (1994-Neshling).rar 


*Texto e link para download extraídos do blog P. Q. P. Bach

Crônica

(Audrey Hepburn e Henry Fonda na versão de 1956 de Guerra e paz.)



Por Luiz Schwarcz( * )

Sobre caçadas e cenas de amor
 
( ... )
 
No primeiro arroubo que tive como escritor, há décadas, pensei em contar a história de um editor que, desiludido com a vida literária, inventava trechos de um romance inexistente, todo composto de acordo com as modas editorias do momento. Depois disso, ele o levava a Frankfurt, acompanhado de falsos aparatos, listas de mais vendidos e resenhas, vendendo-o a um número significativo de editoras de destaque mundial. Voltando ao Brasil, o editor refugiava-se no interior de São Paulo para escrever o tal romance. No final, conseguia terminar apenas um breve conto — uma verdadeira obra-prima, mas que não correspondia aos compromissos assumidos em Frankfurt. A trama continha um sem-número de outras bobagens, que nem sonho contar. Mas o mais absurdo foi o pedido que fiz a Rubem Fonseca na época, que vale citar em nome de umas boas risadas e pela resposta sábia do escritor.

Munido da trama, este que vos fala foi ao Rio de Janeiro descrevê-la em minúcias ao então amigo e exímio contista, com um pedido:

“Rubem, se eu escrever um romance-paródia do mercado editorial — enfim a história do livro inventado, a fraude na Feira de Frankfurt e tudo o que se passou com o mal ajambrado editor —, será que você redigiria o pequeno conto, a obra-prima, que seria inserida como parte do romance, é claro com os devidos créditos à parte que lhe coube?

A resposta de Rubem foi curta e grossa. Continha uma boutade e uma grande lição. Conto-a com suficiente auto–ironia, mas bastante envergonhado, pois faz parte deste momento tão menor da minha capacidade mental, quanto maior do meu ego juvenil.

“Luiz, a obra-prima é o mais fácil de fazer, difícil mesmo é todo o resto.”

Por obra do deus das pequenas coisas, caí em mim naquele exato momento, enfiei minha viola no saco e abandonei o que poderia vir a ser o pior livro sobre o mercado editorial de todos os tempos.

Passados muitos anos, cometi dois livros de contos. Hoje olho para eles e vejo que só consegui falar de silêncio e timidez. Não há descrição de caçadas em meus contos, ou mesmo uma bela cena de amor. Hoje, já sem consternação, reconheço que não saberia fazê-los. Por isso continuo feliz com a minha vida de editor, ainda mais neste momento, tão cheio de novos desafios.
 
* * * * *

( * ) Luiz Schwarcz é editor da Companhia das Letras e autor de Linguagem de sinais, entre outros. Ele contribui para o Blog da Companhia com uma coluna semanal chamada Imprima-se, sobre suas experiências como editor.