domingo, 26 de setembro de 2010

1974


Primeiro campeão do campeonato brasileiro. 1974: Cruzeiro 0 X 1 Vasco

Eduardo Galeano


Janela sobre um homem de êxito

Não pode olhar a lua sem calcular a distância.
Não pode olhar uma árvore sem calcular a lenha.
Não pode olhar um quadro sem calcular o prego.
Não pode olhar um cardápio sem olhar as calorias.
Não pode olhar um homem sem olhar a vantagem.
Não pode olhar uma mulher sem calcular o risco.
 

 Janela sobre o corpo

A igreja diz: O corpo é uma culpa.
A ciência diz: O corpo é uma máquina.
A publicidade diz: O corpo é um negócio.
O corpo diz: Eu sou uma festa.


Janela sobre as paredes

Escrito em um muro de Montevidéu: As virgens tem muitos Natais, mas nenhuma Noite Boa.
Em Buenos Aires; Estou com ome. Já comi o f.
Também em Buenos Aires: Ressuscitaremos, ainda que isso nos custe a vida!
Em Quito: Quando tínhamos todas as respostas, mudaram as perguntas.
No México: Salário mínimo para o Presidente, para ver o que ele sente.
Em Lima: Não queremos sobreviver. Queremos viver.
Em Havana: Tudo é dançável.
No Rio de Janeiro: Quem tem medo de viver não nasce.

Eduardo Galeano: As Palavras Andantes; tradução de Eric Nepumoceno, 5ª ed. Porto Alegre. L&PM, 2007. Pags.: 52,125, 138.

Gravuras ilustrativas de J Borges, extraídas do livro citado.

Vasco

(charge: Frank)

Charge extraída do blog www.xinelao.blogspot.com, hoje, 26.09.2010

Eleições

(charge: Lute)

Extraído do Blog do Lute - "Charge do Dia". Hoje, 26.09.2010

Poesia de todo dia

(Picasso - arte erótica. imagem - google)

Paissandu
 
na Rua Paissandu
a história
bêbada de sono
chocalha os ossos do tempo

noites antigas
sombreiam cardumes alegres
profissão errante
sorrisos nas janelas

uma amor, outra paixão
uma raio, outra trovão
dentro da noite
todos os gatos são pardos
todos os gestos são frágeis

as pernas grossas de Dorinha
os seios altos de Lúcia
a vulva bezerro de Angélica
três janelas
uma porta para o inferno

os homens fazem da vida
um labirinto perigoso
a noite faz da rua
um labirinto tenebroso

e a rua é dos homens
românticos: competentes, traiçoeiros
um competente perigoso
não é menos confiável
que um covarde perigoso

o álcool aproximando conversas
dilatando sorrisos
puxando briga
deitando vítimas

o estampido da pistola avisa
que a Paissandu é assim mesmo
contornar uma esquina
é vencer mais uma curva do destino

f wilson

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Mário Quintana

(Mário Quintana - arte de Netto: www.picinez.blogspot.com)

Menininho doente

Na minha rua há um menininho doente.
Enquanto os outros partem para a escola,
Junto à janela, sonhadoramente,
Ele ouve o sapateiro bater sola.

Ouve também o carpinteiro, em frente,
Que uma canção napolitana engrola.
E pouco a pouco, gradativamente,
O sofrimento que ele tem se evola...

Mas nesta rua há um operário triste:
Não canta nada na manhã sonora
E o menino nem sonha que ele existe.

Ele trabalha silenciosamente...
E está compondo este soneto agora,
Pra alminha boa do menino doente...

Para Gostar de Ler, volume 6 - poesias. Ed. Ática, 1995.

Mais duas estórias de A Tito Filho

(Piracuruca-PI. Casarão - Espaço Jovem - Praça Irmãos Dantas. Imagem: google)

O delegado Manezinho

(Delegado de Polícia de Piracuruca (PI). Muito estimado pelo povo. Decidia com rapidez. Gostava de fazer justiça a seu modo)

Certa vez um caboclo da zona rural o procurou na delegacia. Queixou-se de que o Tonico lhe roubou uma vaca, matou o animal e comeu com a mulher e os filhos.
 
O delegado logo marcou audiência para o dia seguinte, a fim de resolver o caso.
 
E mandou intimar o Tonico, que afirmou haver roubado a vaca: “ com a muié de bucho, esperando minino. Com mais oito fio pra criar, lá em casa a fome anda mardita. O jeito foi robá a vaca”.
Manezinho ouviu tudo, com atenção.
— Quer dizer que vaincê roubou a vaca pra dá comida pra muié e pros fio?
— Foi, seu delegado.
— Pois amenhã, quatro hora, teja aqui pra eu arresorvê o causo.
 
Quatro horas, na Delegacia, presentes o Delegado Manezinho, o dono da vaca e o acusado. Manezinho decidiu com rapidez:
— Seu Bené, a estória da vaca não foi bem contada. O Tonico robou o animal, e aí vaincê disse a verdade. Mas vaincê não disse qui o Tonico e a famia tava passando fome. Vaicê me enganou escondendo os fatos.
E virando-se para Tonico:
— Cadê o couro da vaca?
em casa, seu Delegado.
— Pois vá vendê o couro. E fique com o dinheiro apurado. Beba umas cana pra não ter arrependimento.
E pra Bené:
— Tá arresorvido o causo. Vaincê não contou a estória direito. Perdeu a razão. Podem se arretirá.
 
Assim era a justiça do Delegado Manezinho.
 

(Teresina-PI. Av. Frei Serafim. Imagem: google)
Pedro Basílio da Silva

(Homem público sério e honesto. Durante anos, foi delegado de polícia de Teresina, cargo que desempenhou com coragem e energia. Já falecido.)

Na zona rural de Teresina, há um lugar chamado Periquito, que pertenceu a distinta senhora, cujo verdadeiro nome escondemos, por motivos óbvios. Ela, neste relato, passa a chamar-se Sinfrônia.
Certo sábado, houve baile no Periquito. Muito caboclo, muita mulata, muita cachaça. Lá pela madrugada, desavieram-se alguns dançarinos, e começou a briga feia – cacetes, cadeiras, facas fizeram sangue em vários lutadores. Ao final, gente ferida por todos os cantos da enorme latada das danças.
O caso foi ao conhecimento do delegado Pedro Basílio, que mandou prender os brigões e instaurou o competente inquérito. Ouviu testemunhas. Entre estas, um negrão forte, bem falante:
— Você viu a briga? — perguntou o Delegado.
— Seu doutor, eu vivo no Priquito de dona Sinfrônia há muitos anos. Conheço o Priquito de dona Sinfrônia, pelo direito e pelo avesso. Nesse dia, desde a boquinha da noite, começou a chegar gente no Priquito, pra festa logo mais. Não sei o motivo da briga. Sei, doutor, que foi pau muito lá no Priquito, seu delegado. Só sei que correu sangue no Priquito de dona Sinfrônia, como nunca tinha acontecido.
O delegado mandou recolhê-lo ao xadrez.

A. Tito Filho: Gente e Humor. Teresina, Comepi, 1981.



quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Despejo

 
(charge: Jota A)

Charge publicada no blog Jota A

domingo, 19 de setembro de 2010

sábado, 18 de setembro de 2010

crônica

Cartão de crédito

Quinze anos atrás o cartão de crédito que utilizamos em quase todas as aventuras  econômicas hoje em dia não era tão utilizado, ou melhor, era coisa de classe média pra cima. Mas apesar disso, alguns vaidosos trabalhadores teimavam em possuir o cartão. Faziam suas compras, comiam, bebiam, se divertiam. Era bom a sensação de ter a vida, naquele momento,  sem pagar. Mas depois chegava o correio com a fatura. Era uma dor de cabeça, difícil aceitar os juros cobrados pelo cartão. Sem o dinheiro para pagar o total, todo cartão limita um pagamento mínimo para a dívida. Ufa, que alívio, até que os bancos compreendem as dificuldades financeiras do cliente. Pelo menos é esse o pensamento do consumidor primário que adquiriu o cartão e andou gastando além da conta.

Pois há quinze anos era eu exibindo um cartão, amolando as passagens estreitas das maquininhas. Supermercados, choppins, livrarias, pizzarias, um chopinho aqui, outro ali. Boleto chegava, reclamava da dor mas pagava. A questão é que eu nunca pagava o total - e os bancos gostam disso. Pagava uma parcela e deixava o resto para o tempo.  É quando o banco aproveita o cliente desmaiado de quatro e mete  sem dó, com os juros todos oficializados pelo Central.

Dívida do cartão crescendo, outras despesas obrigatórias à vista. Interromper essa sangria, só um jovem muito equilibrado. Renunciar aos prazeres de solteiro. Bem que tentei, inútil. Foi quando recebi o aviso.

A contadora fez as contas do período e me deu o valor da indenização trabalhista. Razoável. Fiz a lista das dívidas preferenciais, pagar primeiro os fornecedores que tem cara.  Deixei de fora o cartão, que é só bandeira. Dinheiro curto, sem perspectiva de emprego a curto prazo, cortei despesas. Ficava em casa aos finais de semana bebericando uma Kaiser - mais barata; ou umas dosinhas de caninha 51, ouvindo blues, namorando a Geisse. A conta do cartão crescendo. Mandei-a à PQP. Que questionassem meu nome ao SPC, ao Cerasa, à Polícia Federal... qual instituição ia mesmo gastar inutilmente dinheiro em minha causa?

Por falta de pagamento, cortaram tudo em minha casa: luz, água, telefone, moral. Luz e água um rapaz que fazia “bico” ligava rapidinho por dez reais, afinal, para alguém que espera viver um pouco mais é essencial a luz e a água.

Aí o carteiro, que sempre chegava inconvenientemente às duas horas da tarde, quando eu dormia numa rede na sala,  gritava CORREIOS! Era mais uma fatura vencida do cartão. Eu rasgava as extremidades do envelope bocejando, e via a conta crescendo num valor que eu nunca ia ter condições de pagar. Era uma dívida que havia já se acumulando em seis meses, cerca de três mil reais. Pago nada!

O banco descobriu o número do meu celular e me ligou.
— Sr. Francisco?
— Sim.
— Aqui é do banco ..., Sr. Francisco,  o senhor foi um dos sorteados na nossa promoção. Sua dívida será reduzida no valor de dois mil e quinhentos reais. Mas essa promoção só é válida por vinte e quatro horas, Sr. Francisco, depois o valor voltará ao normal, o senhor se interessa?
— Pago nada!
— De qualquer forma, Sr. Francisco, o banco vai aguardar o prazo. Boa tarde, e desculpe pelo incômodo de lhe acordar.

Passado um mês, outra promoção, sempre às duas horas da tarde.
— Sr. Francisco?
— Sim.
— Aqui é do banco..., Sr. Francisco,  o senhor foi um dos sorteados na nossa promoção. Sua dívida será reduzida no valor de dois mil reais. Mas essa promoção só é válida por vinte e quatro horas, Sr. Francisco, depois o valor voltará ao normal, o senhor se interessa?
— Pago nada!
— De qualquer forma, Sr. Francisco, o banco vai aguardar o prazo. Boa tarde, e desculpe pelo incômodo de lhe acordar.

Durante seis meses insistiram na promoção, até que desistiram, pelo menos dos telefonemas, pois cartas de cobradores e de advogados me ameaçavam diariamente. O carteiro que o diga, pois me olhava com raiva, dizia que carta de banco era de urgência e que percorria cinco quilômetros todos os dias do bairro vizinho só para me atender, entregar uma única carta? Questionava ele. Eu o olhava, suado como chaleira, encostado na sua bicicleta amarela. Fazer o quê, eu não tinha dinheiro para pagar o banco e aliviar o sofrimento dele. Ainda disse: olha, você não precisa vir entregar essas correspondências para mim, dê um fim nelas no meio do caminho, eu não preciso delas mesmo. Mas ele respondeu que jamais faria o meu pedido, tinha família e precisava do emprego.

Um ano depois e eu balançando na rede das duas da tarde, frente à tv. Eu já conhecia todos os horários da televisão, todas as emissoras. Jornais, novelas, programas de auditório. Todos grandes merdas. Só prestava atenção aos jornais. Celular tocando:
— Sr. Francisco?
— Sim.
— Sou fulano de tal do banco talco, tudo de bem com o senhor?
— Sim.
— O senhor foi contemplado com um grande desconto da sua dívida. Basta o senhor fazer um depósito de mil reais no prazo de vinte e quatro horas que sua dívida estará liquidada, seu nome será retirado do spc, do serasa, da polícia federal...
— Pago nada!
— De qualquer forma, Sr. Francisco, o banco vai aguardar o prazo. Boa tarde e desculpe pelo incômodo de lhe acordar.

. . .

Dois anos depois minha situação financeira melhorou, voltei a trabalhar. Voltara a fazer planejamentos  de consumidor. Comprava coisinhas, saía para alguma diversão, bebia escrupulosamente um chopinho, olhava as pessoas,  calculava a grana. Pagava à vista. O cartão esquecera de mim, não sem me ofender no último telefonema: O senhor parece ter cara de “velhaco”!

Quando chegaram as boas chuvas de janeiro, eu voltava para casa à noitinha, depois do trabalho. Certa vez entrei a casa e pisei em várias correspondências que o carteiro metia por baixo da porta. Entre as cartas estava lá, uma do banco, com uma mensagem do carteiro, escrita a lápis, na capa do envelope. Dizia estar torcendo por mim. Abri o envelope e o banco talco me fazia uma proposta tímida. Que eu pagasse o valor de oitenta reais, podia ser parcelado em quatro vezes, ou entrasse em contato com o banco para prolongar o prazo, e que após o pagamento da primeira parcela meu nome seria retirado do spc, do serasa, da polícia federal etc.

Fiz o pagamento, à vista.
Não é que limparam mesmo meu nome?

F wilson   

terça-feira, 14 de setembro de 2010

A poesia é necessária


Agenda
 
Encontrei teus olhos
Na idade do A
Pintei inocência na agenda
Rabisquei nossas diferenças

Guardei tuas curvas
Na idade dos sonhos
Na agenda um dedo de seda
Inda caricia botão de seio

Deslizei nos teus hormônios
Na idade da volúpia
Páginas de gemidos
Incontidos nos revelaram

Agendei-me na tua vida
Na idade da razão
Como raízes a dobrar
A pele da nossa sina

F Wilson

conto

( imagem - google )

J L Rocha do Nascimento

MR. MARLBORO III

Ando meio suicida nos últimos dias. São essas nuvens negras. Esse ar sufocante. Os cães, calados, não me deixam mentir. Mas não se preocupe. Hoje eu não me mato. Tenho algo mais urgente a fazer. Um último pedido que eu próprio me concederei. Fumar um cigarro. Um não, vários. Que amanhã não sei se estarei vivo. De repente, posso mudar de idéia. Serve também para o caso de claudicar, não ter coragem. Garantir o resultado, ainda que futuro.

Do blog confraria tarântula

domingo, 12 de setembro de 2010

"ENTRE O DIREITO E A ABÓBORA, O MALABARISTA"

( imagem - wikipédia )

"Carnaval tributário"
Alfredo Augusto Becker

Há falta de oxigênio e sol dentro do mundo jurídico.
O direito não amanhece.
Não chove.
Dentro do direito não transitam nuvens e nem sopram ventos.
As entidades do mundo jurídico não têm carne e nem temperatura.
Jamais foi escutado canto de pássaro dentro do Código Florestal
ou vislumbrado peixe no Código das Águas.
Da lei brotam artigos, parágrafos, alíneas, remissões.
Sequer uma flor ou ramo verde.
A vida do animal humano é muito curta
e eu só tenho uma.
Entre o direito e a abóbora
eu optei pela abóbora.


* Leia mais sobre o texto, que foi extraído do blog: Airton Sampaio Blog (clique no link ao lado: amigos/blogs)

poesia nua

( Amadeo Modigliani - Nu Vermelho - 1917)

Dois em um

meus olhos encaram
pares de seios robustos

meu cérebro engrossando
arrouba tua vagina

pares de testículos obesos
esmurram coxas imponentes


f wilson

agenda

( charge: Paixão )

* Charge extraída do blog: vida noves fora zero

sábado, 11 de setembro de 2010

Pink Floyd - Comfortably Numb Pulse 1994 (Live)

Cânon de Johann Pachelbel (c. 1690)

erótico

( imagem - google )

Maga

Ao longo da praia a areia cintila sob a luz do sol. Maga afunda os pés na areia em sua corrida matinal, acompanhada da cadela Lady, que parece mais uma massa de pêlos cinzentos lutando contra o vento. Uma bela praia acolhe seres da nova geração como uma velha árvore dá abrigo a novos pássaros.

Na baraca da praia.
- Namorada?
- Não, apenas amiga.
- Ela não olhou com jeito de amiga.
- Como, então?
- De quem transou com você, quer mais, e não pretende dividir com outra mulher.
- Todo mundo transa sem compromisso.
- Nem todo mundo - disse ela, aproximando os lábios vermelhos do meu rosto. Os olhos negros se fecharam sob longos cílios. Era o pano de um teatro que se fechava no primeiro ato.

Confiança é uma fraqueza necessária em relacionamento amoroso.

Os peitos de Maga eram duros. Meus dedos acariciavam  a superfície branca e apertavam os bicos vermelhos - pareciam acerolas maduras prestes a borrifar minha boca. Mas a única fruta ali a molhar meus dedos era sua boceta coberta de pêlos. Aninha detestava pêlos. Raspava do umbigo até a divisa com o cu. Sempre carregava na bolsa aparelhinhos descartáveis de gilete. Era comum sentar-se à mesa e ali mesmo meter a mão entre a calça ou saia a alisar com os dedos a pele da xota: um arranhãozinho era suficiente para levá-la ao banheiro para raspar o atrevido. Ali estava eu analisando diferentes comportamentos de bucetas.

Maga ficou de quatro na cama, e logo a fenda escorregadia se abria convidativa.
- Bate na minha bunda, pediu ela.
Bati suave, tinha maciez de criança.
- Bate com força.
Era bom bater. As veias do meu pau iam estourar.
- Com mais força!
Já tava vermelha como pimenta, ia levar uma semana para sentar sem dor. Tampei seu gozo segurando meu pênis, senti os lábios famintos me fechando dentro do útero, sugando-me até a última gota.

A fidelidade é ativa no amor enquanto existir combustão para aquecer o relacionamento.
( ... )

F Wilson

sábado, 4 de setembro de 2010

(imagem - google)

Luís Correia, até que enfim!
Fui!

Conto

(capa do livro Gente e Humor)

José Camilo da Silveira

Um dia, do jogo, fazia parte figura popular, Alcides Soares da Silva, conhecido como Camões, cidadão prestativo, folgazão, a quem o Sr. José Camilo chamava de Manaus.
Manaus, ou Camões, não dispensava, no jogo, a piada. Jogava falando todo o tempo:
— Porra — gritava — a porra da minha carta não chega nunca...
José Camilo, de invulgar seriedade, fazia a advertência:
— Sr. Manaus, vamos ter mais respeito, não gosto dessa linguagem...
— Perdão, “seu” Camilo, perdão, isso não se repete.
Daí a instante, um dos parceiros soltou o rei de paus, carta de que Camões precisava. E Camões:
— Eita merda, este velho entrou aqui empentelhado.
E Camilo:
— Sr. Manaus, se o senhor continuar com essa linguagem eu me retiro.
E Manaus, com humildade:
— Perdão, “seu” Camilo, isto não se repete, garanto.
Passado mais tempo, Camões foi ao baralho e retirou uma carta que cabia entre duas outras, para formar sequência:
— Eita, porra, entrou bem na racha da bundinha.
José Camilo não se conteve:
— Sr. Manaus, exijo respeito. Não posso mais continuar.
— Perdão, “seu” Camilo, mil perdões. Palavra de honra, o fato não se repete.
José Camilo ficou. Prossegue a diversão. Em dado momento, José Camilo da Silveira resolve abrir o jogo sem ver as cartas, como se diz, no escuro, pois tinha a possibilidade de dobrar a aposta:
— Abro no escuro — disse.
— “Seu” Camilo — acrescentou Camões — quem abre no escuro é boceta...
José Camilo desistiu. Jogou as cartas na mesa e deu boa-noite a todos.

A. Tito Filho - Gente e Humor. Teresina, Comepi, 1981, página 73.

Clássico Barroco



Encontrei esse cd no blog:  blogger musical  (basic library)  - ver blogs musicais na coluna ao lado.

Já o tenho gravado em meus arquivos, e escuto diariamente no cd do carro quando ao trabalho na manhã. São músicas incríveis - Bach, Pachelbel, Handel, Vivaldi, Corelli, Telemann e outros grandes do clássico barroco. Não é pra relaxar (detesto essa coisa de música para relaxar), é para ouvir mesmo, trabalhar todos os sentidos e ver quantos instrumentos musicais estão envolvidos na matéria sonora.

Também nunca concordei com arte gratuita. Baixar para conhecer, e comprar o original ( o som é de qualidade muito melhor). Então baixa aí e veja o som de todos os tempos.

part1
http://www.multiupload.com/GY1IIPJLQY

part2
http://www.multiupload.com/K0IQO9ZB7F

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

MAIAKOVSKI

( imagem - google )

"Seus olhos são faróis: iluminam os locais que devem ser atacados"



(Filme meu primeiro amor, 1991, com Macaulay Culkin e Anna Chlumsky - imagem google)

"Quem já me beijou
pode dizer
se existe bebida mais doce que a minha saliva."



La Liberté guidant le peuple - Eugène Delacroix, 1830 - óleo sobre tela - 260 × 325 cm - Museu do Louvre ( imagem - Wikipédia)

"Operário do mundo inteiro,
camponês do mundo!
Avança!
mas não pra lutar
contra outra nação!
É preciso destruir os poderosos e a burguesia, para haver
Paz
para milhões de séculos
a milhares de homens!"


Em Fernando Peixoto. Maiakovski - Vida e Obra. Ed. Paz e Terra. Rio, 1978.

Seleção de textos e montagem de fotos deste blogueiro.