sexta-feira, 3 de julho de 2009

Otto Maria Carpeaux

(foto sem crédito)
Ivan Junqueira*
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"Era sempre o primeiro a chegar à redação, antes mesmo de Antonio Houaiss, outro exemplar madrugador. Pontualmente às 8h, lá estava ele à sua mesa, ao lado de quatro maços de Hollywood, sem filtro, que seriam nervosa e diligentemente consumidos até o fim da tarde. Carpeaux controlava não apenas o ritmo de produção dos redatores, tradutores, revisores e datilógrafas, mas também a maior parte dos textos que chegavam dos colaboradores externos das diversas áreas disciplinares da enciclopédia. Tinha particular aversão pelo especialista em cinofiolia, a quem tratava, com desprezo, de "cachorreiro". Irritavam-no, também, os textos de hagiologia, com aquela prodigalidade de datas comemorativas de santos sepultados e deitava-os à cesta de lixo, rosnando entre dentes: "Ossos de cachorro". Certa vez, às gargalhadas, veio apontar-me um erro cometido por uma das datilógrafas (por sinal, a mais graciosa de todas), que naquela época tinham de lidar com textos manuscritos dos redatores. No verbete sobre Castro Alves, onde o redator escrevera "Espumas flutuantes", a moça datilografara "Espermas flutuantes" (...)".
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Fragmento de texto extraído da introdução "Mestre Carpeaux" ao livro "Ensaios Reunidos 1946-1971 Vol. II. Universidade Editora/Topbooks, RJ, 2005.
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*Poeta e ensaísta. presidente da Academia Brasileira de Letras.

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