domingo, 7 de agosto de 2011

Cotidiano

(Foto: André Luís, blog Joka Madruga Photos)


Calcinhas

Alberto sai do banho preso numa toalha cintura abaixo, passa a mão na bunda de Heloísa - só de calcinha, na cozinha, cortando frutas numa saladeira. Chega no quarto e abre a gaveta do guarda-roupa onde estão as peças íntimas do casal. Se assusta, como um banqueiro ao abrir o cofre,  ao ver a gaveta quase vazia.
— Heloísa, onde estão minhas calcinhas, digo, minhas cuecas!?
— Ah, fiz uma reforma no guarda-roupa. Dei para a empregada camisetas, saias, jeans, roupas que não usamos mais. E joguei fora as peças com defeito de uso. Hoje vamos ao shopping, vi numas lojas umas meias arrasadoras, você vai gostar das combinações sexy da moda.
— Não quero moda, quero as calcinhas usadas de volta. Calcinha nova não tem cheiro, nem pelinhos, nem maciez.
— Com o tempo elas vão ganhando cheiro, seu tolo. Se arruma pra gente ir, vi umas cuecas adoráveis numa dessas lojas.

O sentimento de Alberto era de quem presenciava seu cachorro morto, ou de quem teve seu carro roubado, ou de um LP do Bethô nas mãos de um inábil em direção ao toca-disco. 

— A lilás fio-dental, que visual de calcinha! Entrava tão bem nas noites de sábado aqui na nossa cama, não estou encontrando ela aqui!?
— Foi.
— E a roxinha, que apelava no seu dia de gata no cio?
— Também.
— E a branca de rendinha, da lua-de-mel, que guardava o cheiro da sua virgindade?
— ...
— As vermelhonas do TPM?
— As primeiras para a lixeira. Também a preta fio-dental que você disfarçadamente usava para ir ao trabalho, seu maníaco.
— Eu usando suas calcinhas, você está louca!?
— Não, e vê se para de ficar olhando o varal de calcinhas da vizinha do apartamento dos fundos, aquela exibicionista que anda pelada lá debaixo dos cornos do marido dela.
— Ela anda pelada em casa?
— Tá fingindo que não vê? Anda, vamos logo antes que  eu também comece a andar pelada aqui em casa.


F Wilson
    

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