(Foto: google)
Ecos de uma infância
Por J. L. Rocha do Nascimento*
As folhas secas varridas do chão levantam vôo. Um
gato, rápido, dobra a esquina (vi a ponta do rabo preto) e se esconde
num canto qualquer da velha casa. Minutos depois, ainda o vento. As
folhagens das mangueiras tocam-se umas nas outras, se cumprimentam,
fazem festa. Vem chuva aí. Por enquanto, pingos, apenas pingos, um aqui
outro acolá. Na minha cabeça, um deles explode. Olho pro céu. Um clarão
parte no meio a nuvem negra. No instante seguinte, o chão estremece sob
meus pés. O velho vira-lata, que mal arrasta a pata, não se assusta
mais. Deus ralhando com São Pedro. Mais pingo pingando. Ergo mais a
cabeça. Escancaro a boca. Um deles, que eu aparo com a língua, com o
impacto, se transforma em estilhaços. Doce. O crepitar no telhado. Agora
sim, é chuva. Sonora. Caí do céu, escorrega pelo chão. De volta, aquela
infância. O cheiro de terra molhada. Fofa, fina, revirada. O banho de
bica. A bronca de mãe. O grito de pai. Noite de febre. Minha tia e sua
reza forte. Na manhã seguinte, o riacho cheio.
* Do blog Confraria Tarântula
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