sábado, 14 de junho de 2008

Na sala de aula

Pêlos

Era a primeira vez. Ensaboei o rosto e, munido de um barbeador descartável, removi aquele disfarce natural que imacula os adolescentes. Pêlos concentrados em determinadas partes do corpo humano não é uma questão de desordem hormonal? A mulher tem mais pêlos no corpo do que o homem. A mulher deve aos cabelos, digamos, oitenta por cento da beleza que ela tem no rosto. O cabelo é a parte mais bonita no corpo da mulher: longos, caindo nos ombros ou balançando nas costas.
O púbis, naturalmente coberto de pêlos, eleva o instinto do homem a sua categoria mais primitiva que é enrijecer o membro. Mas as mulheres de hoje depilam o sexo, porque os estilistas de moda também criaram a tendência da buceta higienicamente raspada. O gênio inventor da gilete devia ser estilista. Garanto que não se parecia em nada com a foto do Blue Blaude – uma cara séria de bigodes que vinha na caixinha das antigas giletes. Lembro dessa lâmina de barbear quando meu pai deixava a caixinha sobre a pia do banheiro, antes de ir ao trabalho.
Pêlos. Um fiozinho no sexo ou no suvaco de uma criança é suficiente para a mãe vestir aquele corpo e lhes dá umas lições de moral. Em meu machismo precoce eu exigia de minhas namoradas os pêlos do sexo. Prolongamento de algo que já não pertencia a elas, mas a uma relação que era minha e delas. Era uma sensação boa poder afagar um punhado de grama sob a calcinha delas, para depois sentir a umidade que parecia vir da pureza da terra, ou melhor, do ser. Algumas, em momento de privacidade no banho, ou trocando a calcinha, esquecidas do volume negro crescendo entre suas pernas, se assustavam quando deparavam com aquilo. “Parecia uma aranha caranguejeira pendurada no umbigo”. Outras evitavam ficar despidas frente às amigas, pois sabiam da gozação que sofreriam. Buceta peluda era coisa do tempo da titia, e que a moda agora era peladinha com tatuagenzinhas em volta. Lembro da Carla, cujos pêlos pubianos se desenvolviam em abundância e rapidez, e que um dia chegou para mim: “Raspei tudo”. “Por quê?”, perguntei. “Hoje na piscina do clube, minhas amigas sorriam o tempo todo e perguntavam que volume era aquele que eu tinha dentro do biquíni”. Nesse mesmo dia, à noite, a sós na minha casa - tínhamos voltado da igreja antes dos meus pais – eu quis ver a xoxota dela raspada, mas ela não deixou, chorava dizendo que a gente precisava acabar com aquilo. Eu dizia que gostava dela e que o fato de ela ter se depilado não era motivo para terminarmos. Mesmo assim ela se foi. Telefonei-lhe depois, fiz poesias apelativas (mas sinceras), e ela nada - sabia do meu desespero. Estava decidida, irredutível, eu cada vez mais apaixonado. Hoje eu me questiono se era realmente paixão ou obsessão de vê-la naquele estado de nudez, pois sonhava deitado sobre a maciez de sua xoxota de neve, deslizando entre curvas de uma caverna rosada e aquecida.


f. wilson

2 comentários:

Zazá disse...

Eita!!

J.L. Rocha do Nascimento disse...

eu prefiro assim, porque me lembram as deusas gregas!