domingo, 3 de abril de 2011

Dia-a-dia

(imagem: google)
Caminhada

Emagrecer ou manter a forma é um assunto sempre preocupante aos sedentários. Os que fazem algum tipo de exercício ou mantêm uma dieta regular, quando o tema vem à tona, logo se apresentam vaidosamente -- os mais falantes descrevem o suor das horas em exercícios ergométricos, caminhadas, levantamento de peso e outros levantamentos, exceto o de copo. O ataque a tribo sedentária é fulminante. Faz-se o consciencioso estado de direito na preservação da saúde e da estética corporal.

Decidi tirar um tempinho para uma caminhada diária. Consultei a agenda. Como no colégio onde trabalho é impossível liberar uma horinha para esse tipo de atividade, descartei. Em casa as crianças precisam do meu reforço para as tarefas escolares – sem chance, pensei. Prevaleceu o despertador. Disciplinei o celular para cinco horas, a melhor hora de sono do trabalhador. Sonolento, calçei os tênis, vesti uma camisa e já me aquecia na calçada quando Marcela, que me vigiava inaudível, sugeriu à sua maneira: “Veste pelo menos um short, ou vai de cueca mesmo?”.

Tomadas alegres do cinema revelam garotas joviais exalando saúde sob o corpo desenhado em malha de lycra, correndo pelos calçadões ao amanhecer do dia. Primeira vez caminhei cinco voltas ao redor do campo de futebol, mas foi mais conversa, pois o pessoal que estava lá fazendo exercício, todos conhecidos meus do bairro,  não queria conversa. Eu é que corria atrás deles perguntando alguma idiotice. Algum, por consideração, diminuía a marcha e me respondia, para logo me deixar para trás. Outro com fone de ouvido ligado ao mp3 do celular só gesticulava as minhas asneiras.

Nesse primeiro dia, suei mais pela humilhação do que pela caminhada. Mas aprendi que a maioria das pessoas não queriam conversa durante suas caminhadas. Elas  pareciam concentradas em cenas sinistras  de conhecidos que morreram de infarto por serem sedentários; ou do cotidiano - que vão emagrecer e serem vistosas ao fazerem compras nos shoppings da cidade; ou se preparando para o futuro de cem anos.

Nos dias seguintes fechei a cara. Entrava no corredor da caminhada, levantava a sobrancelha de um olho em bom dia aos amigos e pronto. Em uma semana já caminhava três quilômetros e corria outros dois. Cinco quilômetros na manhã deixavam o coração oxigenando o sonho do materialismo.

Mas ultimamente venho sentindo falta de alguns companheiros de caminhada. Matutei a ausência deles, não perguntei por decoro às regras ali vigentes ao ritmo que cada usuário faz ao seu passo de viver mais. Ponderei algumas questões que os afastaram da caminhada: 

a) aqueles que são dados ao jornalismo da tv se convenceram de uma divulgação científica recente de que dormir bem emagrece. Então decidiram eles dormir ao ficarem circulando o campo vendo as mesmas caras; 

b) especulo também se não é por causa da escuridão do inverno nas manhãs desses  meses de março e abril na nossa cidade às cinco horas. Se esse o motivo, eu, por exemplo, fico esperando clarear, deito um pouquinho ainda arrumado e com tênis nos pés, e só acordo quando Marcela já pronta para  seu trabalho, me toca perguntando se agora faço caminhada dormindo na rede.

F Wilson

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