sábado, 24 de setembro de 2011

Bruna Lombardi

(foto: terra.com)

Dia desses topei numa rua do centro com uma ex-aluna. Ela estava suadinha, eu também com parte da camisa molhada - é calor em Teresina. Ela me perguntou sobre um certo poema da Bruna Lombardi que um dia foi tema de discussão em sala de aula. Eu havia esquecido do texto, mas ela me lembrou da personagem do poema, uma adolescente...

Ao chegar em casa procurei nas estantes o livro “O perigo do dragão”, mas não encontrei - vivo emprestando meus livros. Apelei para umas agendas antigas. Enfiado entre páginas de uma delas estava lá, copiado de bic azul, o texto datado há mais de dez anos.

No quadro de giz eu copiava o poema - esse eu sabia de cor - durante as aulas de redação, e o poema fazia bastante efeito entre alunos adolescentes que liam em silêncio, reliam sorrindo, até a  sala ficar sem controle de voz, todos queriam dizer ou perguntar sobre o poema. Devo dizer que de propósito eu trocava o pronome, no poema, "ele" por "ela".


Lúbrico

Você vai logo perceber que ele não é uma pessoa fácil
um temperamento horrível, me diziam.
e eu escrevia o nome dele secretamente
nas vidraças, nos elevadores, nos banheiros de cinemas.
Você sabe que eu também às vezes fico insuportável
com essa mania de querer o impossível
mas devia existir uma brecha nos nossos destinos
que permitisse um encontro num quarto de hotel qualquer
uma vez na vida, furtivos e ordinários
uma vez e pronto - horas roubadas.

Não tive nunca jeito de fazer essa proposta
e ele talvez nunca soube o que eu queria
carrego o lado oculto de um desejo
passo por ele, sorrio, digo bom-dia

Bruna Lombardi em "O perigo do dragão"

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