(foto: wikipédia)
DESEJO DE FÉRIAS
Para meu amigo Francisco José Duarte
Final de férias acordo como mulher parida – sinto desejos
alimentícios, numa sexta-feira de julho, então.
Férias de julho é assim, não viajo – viro servente de
pedreiro na minha própria casa. É que tenho acumulado manutenção da casa. Um quadrado de cerâmica para trocar, a
fechadura da porta pra jogar fora – os meninos batem, batem, batem e não
adianta reclamar: troco logo a porta. Seu Wilson, essa torneira da pia, não
presta mais, reclama a empregada, tá bom, nas férias conserto... Mas o senhor não está de férias? Aí
lembro, vez em quando, sou preferencial: consertar a caixa de som do
micro, pois numa só caixa os “metais” musicais ficam prejudicados. Isso fora o
telhado, os controles infuncionáveis do
Playstation dos meninos, ventiladores, a perna da cama quebrada...
Faço as contas – débitos e créditos salariais: trocar a
borracha da janela do carro que o ladrão rasgou na tentativa de me roubar o toca-CD, ou meus cd’s de rock,
ou jazz, ou meus clássicos; mandar
fazer um portão de ferro 80 x 120 para o lado lateral da casa que o
ladrão avisou que ia voltar; mandar subir o muro da casa que o ladrão passou em
frente e já estudou o serviço . Vai se
cortar todinho de caco de vidro, Menor! (falei pra mim, enquanto ele na dele
dizia: é professor, uma cerca elétrica ficava mais seguro). Faço as contas, contrato um pedreiro e eu
mesmo ajudo: bom, quem é babá, pode também ser servente de pedreiro, ou as duas
coisas ao mesmo tempo. A conta fica devedora, claro. Vai à praia, alguém
pergunta. Adonde!
Mas eu estava falando dos desejos alimentícios. Acho que é a
vontade de parir o último de férias, parece contradição, o trabalhador tende a
“matar” o último dia de férias. E lá vô eu em busca de bacalhau, uma vontade
imensa de comer bacalhau. Quem me conhece deve estar sorrindo com seus pensamentos cheirando a bacalhau. Mas estou falando sério. Fui ao Teresina
Shopping neste sábado em busca do peixe. Sem pressa. Monotonia: visitei primeiro a livraria, olhei vitrines,
visualizei garotas bonitas, desprezei
ignorantes endinheirados, paguei meu chopp semestral na praça de
alimentação e, finalmente, bebi o último
gole do chopp farejando o sal do mar português:
“Ó mar salgado/ quanto do teu sal são lágrimas de Portugal”.
Acho que bebi mais de um chopp, Fernando Pessoa que o diga.
E nos labirintos de supermercado não havia só uma caixa de som (lembra da caixa
de som?), mas deuses do som: Sony,
Samsung, LG, Philips – imortais sorrindo para mim coitado. Eu só queria um pedaço de bacalhau. E noutra
prateleira garrafões de vinho – sim, mas não era de Dom Bosco não, e sim os
amigos da “Quinta do Morgado” reclamavam:
“– Amigo, quanto tempo, amigo!”
Era mesmo, trouxe um amigo para casa, agasalhei-o no friser da geladeira e
fui preparar a torta de bacalhau.
Devo dizer que sou expert na cozinha quando se trata de
torta (sempre fui um torto, pra compensar). Então, senhoras, o preço do
bacalhau, da “terrinha”, em crise europeia, tá um barato. Eu comprava sardinha,
mas no preço de quatro sardinhas em real de 2,50 (dez reais) sai mais saboroso
comprar uma bandejinha de bacalhau pelo
mesmo preço, dona. Então, estou aqui, já
bati os ovos, a frigideira já está amanteigada, o bacalhau esfiapado, o “Quinta
do Morgado” geladinho...
Final das férias, ou da história: as crianças pediram bis, e
pediram mais e nessas vésperas estou parindo o último dia de férias. É claro
que quando as férias acabarem eu preciso de repouso para amamentar a cria.
F wilson
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