sábado, 28 de julho de 2012

Crônica

(foto: wikipédia)


DESEJO DE FÉRIAS


Para meu amigo Francisco José Duarte


Final de férias acordo como mulher parida – sinto desejos alimentícios, numa sexta-feira de julho, então.

Férias de julho é assim, não viajo – viro servente de pedreiro na minha própria casa. É que tenho acumulado manutenção da casa.  Um quadrado de cerâmica para trocar, a fechadura da porta pra jogar fora – os meninos batem, batem, batem e não adianta reclamar: troco logo a porta. Seu Wilson, essa torneira da pia, não presta mais, reclama a empregada, tá bom, nas férias conserto...  Mas o senhor não está de férias? Aí lembro,  vez em quando, sou  preferencial: consertar a caixa de som do micro, pois numa só caixa os “metais” musicais ficam prejudicados. Isso fora o telhado,  os controles infuncionáveis do Playstation dos meninos, ventiladores, a perna da cama quebrada...

Faço as contas – débitos e créditos salariais: trocar a borracha da janela do carro que o ladrão rasgou na tentativa de  me roubar o toca-CD, ou meus cd’s de rock, ou  jazz, ou meus clássicos; mandar fazer  um portão de ferro  80 x 120 para o lado lateral da casa que o ladrão avisou que ia voltar; mandar subir o muro da casa que o ladrão passou em frente e já estudou o serviço .  Vai se cortar todinho de caco de vidro, Menor! (falei pra mim, enquanto ele na dele dizia: é professor, uma cerca elétrica ficava mais seguro).  Faço as contas, contrato um pedreiro e eu mesmo ajudo: bom, quem é babá, pode também ser servente de pedreiro, ou as duas coisas ao mesmo tempo. A conta fica devedora, claro. Vai à praia, alguém pergunta. Adonde!

Mas eu estava falando dos desejos alimentícios. Acho que é a vontade de parir o último de férias, parece contradição, o trabalhador tende a “matar” o último dia de férias. E lá vô eu em busca de bacalhau, uma vontade imensa de comer bacalhau. Quem me conhece deve estar  sorrindo com seus  pensamentos cheirando a bacalhau.  Mas estou falando sério. Fui ao Teresina Shopping neste sábado em busca do peixe. Sem pressa. Monotonia:  visitei primeiro a livraria, olhei vitrines, visualizei garotas bonitas, desprezei  ignorantes endinheirados, paguei meu chopp semestral na praça de alimentação e,  finalmente, bebi o último gole do chopp farejando o sal do mar português:  “Ó mar salgado/ quanto do teu sal são lágrimas de Portugal”.

Acho que bebi mais de um chopp, Fernando Pessoa que o diga. E nos labirintos de supermercado não havia só uma caixa de som (lembra da caixa de som?), mas  deuses do som: Sony, Samsung, LG, Philips – imortais sorrindo para mim coitado.  Eu só queria um pedaço de bacalhau. E noutra prateleira garrafões de vinho – sim, mas não era de Dom Bosco não, e sim os amigos da “Quinta do Morgado” reclamavam:  “– Amigo, quanto tempo, amigo!”  Era mesmo, trouxe um amigo para casa, agasalhei-o no friser da geladeira e fui preparar a torta de bacalhau.

Devo dizer que sou expert na cozinha quando se trata de torta (sempre fui um torto, pra compensar). Então, senhoras, o preço do bacalhau, da “terrinha”, em crise europeia, tá um barato. Eu comprava sardinha, mas no preço de quatro sardinhas em real de 2,50 (dez reais) sai mais saboroso comprar  uma bandejinha de bacalhau pelo mesmo preço, dona.  Então, estou aqui, já bati os ovos, a frigideira já está amanteigada, o bacalhau esfiapado, o “Quinta do Morgado” geladinho...

Final das férias, ou da história: as crianças pediram bis, e pediram mais e nessas vésperas estou parindo o último dia de férias. É claro que quando as férias acabarem eu preciso de repouso para amamentar a cria.


F wilson                

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