sábado, 5 de julho de 2008

Na sala de aula

SEXTA-FEIRA, 13

Saí da escola martelando a certeza de mais um dia comum. Nessa idade eu convencia qualquer pergunta respondendo “sim”, “não”, “talvez”. Quem me perguntava mais eram as freiras – donas da escola. Queriam mexer comigo. Elas sabiam que todo mundo queria ler minhas redações que as professoras exigiam na disciplina. A Irmã Mariana um dia me disse:
- Eu sei. Você, garoto, prefere ver as pessoas falando. Mas não é bom ficar o tempo todo calado desse jeito.
Ela tinha os olhos verdes da cor de azeitona, era branca e devia ter os cabelos negros longos. Como uma mulher daquela tinha virado freira?


Não era um dia comum. Minha mãe havia me dito que eu tinha nascido numa sexta-feira treze. Era noite e a lua cheia acompanhara o parto junto a janela do quarto da maternidade onde ela estava. Foi uma noite inquieta pois ela ouvira muitos uivos de carona no vento.
Era uma sexta-feira 13. eu havia feito as contas:
Treze anos de escola – do jardim até a sexta série onde estava;
Treze registros de indisciplina na escola – consultei às freiras;
Treze paixões platônicas entre professoras e alunas;
Treze “colas” bem sucedidas no percurso avaliativo;
Treze era minha média escolar – a mínima era doze;
O porteiro desconfiou de minha mochila, grande e pesada. Mandou eu esvaziá-la. Contou: Tirando o caderno, treze livros – mais paradidáticos que didáticos. Me pediu um do Raymond Clandler emprestado.
Eu estudava na sala de número 13 da escola.
Perguntei a professora Ritinha.
- Professora, quantos irmãos a senhora tem?
- 13, meu lindo, por quê?
- A senhora, que número na família?
- 13, sou a mais nova!


Não falei para ninguém, nesse dia eu estava completando 13 anos. Se tivesse falado para a professora Ritinha ela teria providenciado um bolo e refrigerantes, além da chatice do parabéns. Ainda bem que nada disso aconteceu. Os meninos e as meninas só falavam de histórias e lendas que acontecem nesse dia, e que nos Estados Unidos existe um tal de “hallow...”, dia das bruxas. Eu achava tudo aquilo uma grande bobagem.


Mas, como ia contando no início, a campainha tocou e eu fui logo tratando de ir para casa. Sentia os tênis apertando nos meus pés. Caminhava apressado pela calçada. Foi quando a unha do dedinho furou o tênis e apontava fora. No outro pé mais unhas ameaçavam arrebentar a lona do calçado. Que merda, eu já havia aparado as unhas três vezes hoje.
Outra coisa estranha: pontinhas de pêlos crescendo no corpo inteiro. Estava coçando. Ao chegar em casa vou ter o cuidado para minha mãe ou minha irmã não me verem pelado.
Olhei para cima e uma lua gordona parecia olhar para mim, dizendo:
- Hoje a noite é tua, garoto!

F. Wilson



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