sábado, 4 de setembro de 2010

Conto

(capa do livro Gente e Humor)

José Camilo da Silveira

Um dia, do jogo, fazia parte figura popular, Alcides Soares da Silva, conhecido como Camões, cidadão prestativo, folgazão, a quem o Sr. José Camilo chamava de Manaus.
Manaus, ou Camões, não dispensava, no jogo, a piada. Jogava falando todo o tempo:
— Porra — gritava — a porra da minha carta não chega nunca...
José Camilo, de invulgar seriedade, fazia a advertência:
— Sr. Manaus, vamos ter mais respeito, não gosto dessa linguagem...
— Perdão, “seu” Camilo, perdão, isso não se repete.
Daí a instante, um dos parceiros soltou o rei de paus, carta de que Camões precisava. E Camões:
— Eita merda, este velho entrou aqui empentelhado.
E Camilo:
— Sr. Manaus, se o senhor continuar com essa linguagem eu me retiro.
E Manaus, com humildade:
— Perdão, “seu” Camilo, isto não se repete, garanto.
Passado mais tempo, Camões foi ao baralho e retirou uma carta que cabia entre duas outras, para formar sequência:
— Eita, porra, entrou bem na racha da bundinha.
José Camilo não se conteve:
— Sr. Manaus, exijo respeito. Não posso mais continuar.
— Perdão, “seu” Camilo, mil perdões. Palavra de honra, o fato não se repete.
José Camilo ficou. Prossegue a diversão. Em dado momento, José Camilo da Silveira resolve abrir o jogo sem ver as cartas, como se diz, no escuro, pois tinha a possibilidade de dobrar a aposta:
— Abro no escuro — disse.
— “Seu” Camilo — acrescentou Camões — quem abre no escuro é boceta...
José Camilo desistiu. Jogou as cartas na mesa e deu boa-noite a todos.

A. Tito Filho - Gente e Humor. Teresina, Comepi, 1981, página 73.

Nenhum comentário: