terça-feira, 3 de agosto de 2010

Questões Pedagógicas

(charge de Ivan Cabral)

Criatividade, inovação e encantamento: a reinvenção da escola


Max Haetinger
Mestre em Educação; Especialista em Criatividade,
Tecnologias Aplicadas na Educação,
Psicopedagogo, Palestrante
Autor de vários livros.


"A teoria da Evolução, de Charles Darwin
nuncaa esteve tão presente entre nós.
Caros Colegas professores, ou evoluímos ou seremos extintos." 
Nos últimos anos temos sido bombardeados por novos termos, novos olhares, e novos valores na vida e na educação. Do marketing surgido nos anos 80 ao bullying nos dias de hoje a educação e os educadores têm feito um esforço tremendo para se atualizar e gerar novas saídas para um velho problema: relação entre alunos, professores e o conhecimento.

Mas qual seria a saída verdadeira? Existe uma fórmula consagrada que resolva nossas angústias frente ao quadro quase caótico do ensino/aprendizagem em muitos recantos deste mundo? Como promover uma escola que seja capaz de mudar e se transformar sem perder o conteúdo? E, principalmente, como fazer tudo isso e manter os alunos focados e motivados no processo de seu desenvolvimento como indivíduo e de sua formação?
(...)
Para responder, vamos começar a olhar e refletir sobre as palavras do nosso título.
CRIATIVIDADE: essa palavra tem perseguido nosso dia a dia nos último trinta anos, mas o que ela pode realmente propor para a escola e para a relação alunos, professores e conhecimento?

Sem dúvida, a criatividade é uma das valências humanas mais importantees nesta era do conhecimento e da informação. Criatividade é o diferencial dos vencedores, quem gera novas idéias é que se destaca, não quem acumula informação, afinal qualquer aparelho eletrônico hoje pode retê-la.

A forma com que usamos essas informações acumuladas em nossa mente, em livros, DVDs, sites, redes sociais virtuais ou reais, mp3, e por aí vai, é o que nos diferencia e nos torna autênticos ou não. Por isso a criatividade passa ser muito importante em nossa formação, não basta acumular, tem que criar para então se diferenciar das máquinas.

A criatividade vem para, de certa forma, substituir a capacidade de memorização no processo de ensino/aprendizagem.

E não pensem que o pensar criativo é mágico e vem simplesmente como um dom divino. Ele é fruto de muito esforço, trabalho duro, autonomia, expressão, diálogo, respeito mútuo e, principalmente, de uma escola mais vivencial, mais conectada com a realidade em que vivemos. Uma escola do jogo das atividades lúdicas e da expressão, que esteja sempre se desafiando. Uma escola onde os alunos têm a possibilidade de vivenciar o que sentem necessidade, onde a tarefa começa no banco escolar, mas acaba na comunidade. Da reflexão para a ação, e da ação para expressão; da expressão para criação, e da criação nasce a nova sociedade; e da prosperidade e dos valores éticos correspondentes com o tempo em que vivemos.

Para as autoras Bordini e Aguiar: “A criatividade ultrapassa o puro lazer e pode convencer-se em aquisição de conhecimento quando se processa planejadamente. É um meio de apropriação e transformação da realidade, gerando prazer e conhecimento, de formas não exclusivas. Supõe uma relação do homem com o mundo, em que o alvo não é meramente o conhecimento do que existe, mas a exploração do existente para algo novo.” (1993).
(...)
A segunda palavra de nosso título é INOVAÇÃO e inovar é hoje uma necessidade e não uma opção. Inovação está ligada à transformação que temos que realizar em nossos processos de aprendizagem, de gestão, financeiro, existencial..., ou seja, neste nosso mundo tão veloz e quase frenético, ou estamos sempre em atualização, inovando, ou ficamos para trás em instantes.

Vivemos numa era na qual, em segundos, as coisas se transformam, na qual o mundo está ao alcance de todos e um acontecimento no Japão pode mudar nossa vida aqui no Brasil em instantes. Nossos jovens, através do computador e de outros muitos meios de se conectar com esse universo globalizado, mudam e transformam rapidamente a sua forma de ser, fazer e conviver. Portanto, para estarmos com um discurso coerente e em condições de pôr em prática tudo o que significa EDUCAR também precisamos nos adaptar a estar em constante evolução e transformação.

Isso significa que, na prática docente, cada dia ao prepararmos a nossa aula devemos nos perguntar: não existe uma nova forma de abordarmos esse conhecimento? Qual a melhor forma de transmitir esse conteúdo ao meu aluno? Devemos anexar em nossos processos as mídias, vídeos, filmes, áudios, fotos e pesquisas na web em nosso tratamento diário com o conhecimento.
(...)
Na economia formal a inovação é vista como única forma de salvação e reinvenção das empresas e serviços. Para mim, na escola, inovação é a única forma de mantermos os alunos presentes e, mais do que isso, aprendendo, pois neste século assistir à aula não significa aprender, aprender é interagir. Entretanto, para interagirmos os processos têm que ser inovadores e condizentes com a realidade de nossos educadores.

A teoria da evolução de Charles Darwin nunca esteve tão presente entre nós. Colegas professores, ou evoluímos ou seremos extintos.

E nessa terceira palavra do título, e também muito importante, é ENCANTAR. E aqui não pense que estamos neste século falando apenas do sentido direto da palavra encantar ou encantamento. Sempre que me refiro a esse termo quero me referir ao sentido lúdico, se buscarmos as definições formais veremos que encantar é exercer influencia mágica, fascinar, cativar pessoas ou situações, é provocar admiração, causar satisfação no outro.

As definições descrevem uma ação cheia de valores de fundamental importância, pois vivemos no mundo do encantamento e as crianças desde cedo são encantadas pelos meios reais e virtuais que as cercam, do “parquinho” de diversões (pracinhas hi-tech, videogames, internet, computador, câmeras digitais) aos passeios e conversas com amigos. Nossos alunos, sejam eles crianças, adolescentes ou adultos, estão sujeitos a esses encantamentos midiáticos e reais. E nossas aulas estão carregando dentro delas esses encantamentos? Nosso discurso está encantando ou assustando?

(...) encantar em sala de aula é fazer aquilo que o aluno não espera, é surpreendê-lo, é fasciná-lo. Cabe ao educador realizar coisas novas, praticar a INOVAÇÃO e, principalmente, proporcionar e buscar de seus alunos a CRIATIVIDADE no tratamento dos temas e conteúdos. Com isso a escola se renova e ENCANTA e nós, professores, poderemos construir de verdade uma geração do futuro, que vai buscar novas saídas para este mundo, novas idéias, novas atitudes e, especialmente, novos valores, tão necessários diante dos grandes e novos desafios com que temos nos deparado em nosso dia a dia.



Texto veiculado na Revista Aprendizagem. Ano 3 nº 15/2009

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